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AGENDA

15/06/09

ler e depois 3


A segunda feira é um dia (quase) igual aos outros

Num momento de destempero garanti aos leitores de outro blog que às segundas escreveria uma nota de leitura aquí. Razões? Muitas e nenhuma: Para corresponder ao amável convite da Liliana, porque antes da segunda há o que se chama um fim de semana que a pessoa prudente usa com parcimónia e fugindo da multidão, por não sei mais que razões incluindo obviamente a “por que sim”.

Claro que são seis e meia da tarde de segunda, chiam no corredor as botas do moço da tipografia e eu não estou com vontade de dizer mal do bey de Tunes (se é que cito correctamente o formidável Eça). Que escrever já que me meti de pés e mãos nesta empresa? Que escrever quando resolvi intitular a crónica como em cima se lê?

S. Jacques Prévert veio, subitamente, em minha ajuda. Um verso, um verso grande como o mundo, um verso que remata o primeiro poema das extraordinárias “Paroles” e que (por pura preguiça de ir pelo livro) traduzo apressadamente de memória do francês. “…os que envelhecem mais depressa do que os outros/ os que não se baixaram para apanhar o alfinete/os que morrem de pasmo ao domingo á tarde/ porque vêem chegar a segunda feira/ e a terça e a quarta e a quinta e a sexta e o sábado/ e a tarde de domingo.”

Este verso termina um dos mais geniais poemas do seculo XX a famosa “tentative de description d’un diner de têtes…” longa composição-inventário datada de 1931 mas actualíssima.

Ora, para os preguiçosos em línguas estrangeiras, para os que nem sequer as falam patrioticamente mal, há desde há ano e meio, dois anos, uma edição portuguesa dos Poemas de Prévert. Chama-se “Palavras”, (Sextante) não há que enganar e é uma preciosidade que o cultíssimo João Rodrigues entendeu editar. Este JR é um cavalheiro de alto gabarito, um pronto socorro cultural, um editor de mão cheia, um amigo muito querido e antiquíssimo e edita os livros de que gosta sempre que pode que isto da edição e do mercado editorial é pior do que a arena do Coliseu romano nos seus melhores dias. Leitores já não há desculpa para desconhecer Prévert, Jacques de seu primeiro nome, um autor solar, um poeta com humor, um cineasta de mão cheia, enfim uma criatura para conhecer e amar.

Isto deveria ficar por aquí mas não. É que me veio à cabecinha pensadora um outro poeta, português este, universal como verificarão quando o lerem, uma voz solitária (mas não única) no panorama literário, um criador que vai pacientemente assentando uma obra excepcional de inteligência, de pausado lirismo (ai se ele me lê!…) e de re-invenção verbal. Ou: como usando palavras de todos os dias, escassas metáforas, um discurso simples e grave, e daí sair o lume de um poema. Falo, de Manuel António Pina, um poeta com obra desde fins de 60 (1969: ano de “ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde”, livro vertiginoso que imediatamente lhe grangeou um grupo entusiástico de leitores que, contra o costume, tem crescido a pontos de MAP ser quase um poeta conhecido. Dele são também crónicas (as primeiras reunidas em livro: “O Anacronista”, Afrontamento) que agora saltam dos jornais e deambulam pela internet: os bloggers roubam-nas alegremente e espalham-nas a esmo. MAP é um dos mais finos e interessantes comentadores do nosso quotidiano e exerce essa subtil e dificil arte com ironia certeira indignação cidadã. Um regalo.

Os poemas andam pela Assírio e Alvim e, ao que sei ainda não há edições completamente esgotadas: leiam-se “Poesia Reunida”, 2001, “Nenhuma palabra,nenhuma lembrança”, “Os livros”, 2003 ou, melhor ainda, vão por ele, estante atrás de estante, abram o livro, também há prosa e da melhor para já não falar na secção de literatura infantil, experimentem, saboreiem, riam, gozem esta língua, este estilo este terno pudor e depois, depois, é só passar pela caixa. Há dinheiro que é bem gasto.

Não resisto a transcrever “café do molhe”:

Perguntavas-me /(ou talvez não tenhas sido / tu, mas só a ti /naquele tempo eu ouvia)/

porquê a poesia/e não outra coisaqualquer:/ a filosofia, o futebol, alguma mulher?/eu não sabia /

que a resposta estava/ numa certa estrofe de/um certo poema de/Frei Luis de León que Poe/

(acho que era Poe)/conhecia de cor,/ em castelhano e tudo./ Porém se o soubesse/

de pouco me teria/então servido, ou de nada./Porque estavas inclinada/ de um modo tão perfeito/

sobre a mesa/ e omeu coração batia/ tão infundadamente no teu peito/ sob a tua blusa acesa/

que tudo o que soubesse não o saberia./ hoje sei: escrevo/ contra aquilo de que me lembro,/ essa tarde parada, por exemplo.

Enquanto os poetas, estes poetas, existirem, ou os seus livros, as tardes de domingo, poderão ser melancólicas, chuvosas, quentes, mas nunca, nunca, tristes ou aborrecidas.

* gravuras: capa de Palavras e MAP com uma das suas gatas

1 comentário:

Anónimo disse...

ler poesias ou poemas ...vcveja ah milhoes que se indentificam somente por esta arte...

oamor eh divino mesmo em apenas palavras...
nos rejuvenecemos amando...
e melancolico ou triste vai saber..
gente gosta!!

beijos