ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

29/09/10

NOVIDADES

Estas são algumas das mais recentes novidades chegadas ao Pátiode Letras:

Trilogia O Século, A Queda dos Gigantes - Livro I, de Ken Follett, Presença

1822, de Laurentino Gomes, Porto Ed.

Dez Mil Guitarras, de Catherine Clément, Porto Ed.

Justiça Fiscal, de Saldanha Sanches, FFMS

Dentro de Mim Faz Sul, de Ondjaki, Caminho

A Tempestade, de William Boyd, Casa das Letras

Novo Dicionário do Islão, de Margarida Santos Lopes, Casa das Letras

Para Interromper o Amor, de Mónica Marques, Quetzal

Livro, de José Luís Peixoto, Quetzal

Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa, Dom Quixote

Memórias Secretas da Rainha D. Amélia, de Miguel Real, Dom Quixote

O Médico de Córdova, de Herbert Le Porrier, Bizâncio

Revista EXIT nº 39 visitar o site aqui: http://www.exitmedia.net/

"Eu Roubei o Sta. Maria" - apresentação e debate

com José António Barreiros e Camilo Mortágua

Sáb. 2 Out., 21h30 (clicar na im agem para aumentar)


Escrito em 1972, agora traduzido enfim para a língua portuguesa, é o relato do assalto ao navio “Santa Maria”, praticado por um comando revolucionário luso-galaico, o DRIL, em Janeiro de 1961.

Escrito por “Jorge Soutomaior”, nome de guerra do activista galego José Fernández Vázquez, nele se fazem revelações inéditas sobre o acontecimento que se liga com o início da insurgência em Angola, a 4 de Fevereiro.

Livro polémico, mostra as contradições políticas da operação, os conflitos de personalidade do autor com o capitão Henrique Galvão que passou para a História como tendo sido o estratega e o líder do acto. O que “Eu roubei o Santa Maria” desmente. O drama histórico e a tragédia humana fluem ao longo da escrita de uma aventura que custou a vida ao piloto do navio, Nascimento Costa.

José António Barreiros traduziu e apresentará a obra que prefaciou referente ao que foi denominado como “Operação Dulcineia”.

Camilo Mortágua, que com Henrique Galvão, integrou o comando revolucionário do DRIL, participará no debate, evocando a sua memória e a sua vivência pessoal que já confiou a um livro de memórias que editou.

19/09/10

"O outro lado da história do assalto ao Santa Maria", n' O Público

por António Arnaldo Mesquita - O Público, 18 de Set. 2010

Para o capitão Henrique Galvão, o assalto ao Santa Maria foi uma vitória. Para o comandante Jorge Soutomaior, um fracasso. José António Barreiros traduziu o relato de Soutomaior. O resultado, diz, é um livro que dá uma visão diferente daquela operação

Chama-se Eu Roubei o Santa Maria - relato de uma aventura real. É uma visão diferente do que se passou entre a madrugada de 22 de Janeiro e o dia 2 de Fevereiro de 1961, quando o paquete Santa Maria foi tomado por ex-combatentes galegos da Guerra Civil de Espanha e dissidentes do Estado Novo. O advogado José António Barreiros traduziu o relato escrito em 1972 pelo comandante Jorge Soutomaior, herói na Guerra Civil espanhola, que conta a sua versão dos bastidores da operação. O livro é lançado na próxima quarta-feira.

Porque decidiu traduzir o livro Eu Roubei o Santa Maria?
Porque esta versão do apresamento do Santa Maria era ignorada, apesar de ter sido escrita em 1972.
Vingava ainda na memória colectiva a narrativa de Henrique Galvão, assente numa lógica de "culto da personalidade", que esquecia a verdadeira natureza política galaico-portuguesa do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL) e fazia tábua rasa das contradições internas e internacionais do acto. Havia que abrir caminho ao outro lado da História. Os historiadores que digam onde está a verdade.

Que papel teve o comandante galego na tomada do Santa Maria?
Soutomaior, oficial de Marinha, foi o responsável pela operação militar de tomada do navio e condução do mesmo, sendo Henrique Galvão o dirigente político. Do ataque resultou a funesta morte do piloto Nascimento Costa e ferimentos em outros oficiais. Salazar tentou que o acto fosse considerado como pirataria, mas acabou por ser reconhecido pelos EUA como um acto de beligerância legítima, tendo o Brasil dado asilo político aos ocupantes do navio.

Quem era Jorge Soutomaior?
Jorge Soutomaior é o nome de guerra de um galego, herói na Guerra Civil espanhola do lado republicano. Chamava-se José Hernández Vázquez. Nasceu em 1904. Refugiado na Venezuela, formou com o professor Velo Mosquera um movimento de libertação da Galiza.É nesse quadro que pactuam com o general Humberto Delgado, em Caracas, e fundam o Directório Revolucionário Ibérico de Libertação, movimento que visava criar uma Ibéria livre das ditaduras peninsulares. Morreu no final dos anos oitenta.

Diz que o relato de Soutomaior dá uma versão diferente da história do Santa Maria. Pode concretizar?
Há substanciais diferenças. Por um lado, conta a origem do DRIL, o papel dos galegos neste movimento, a sua participação na tomada do barco. Depois, porque detalha os conflitos ideológicos e de personalidade entre Soutomaior e José Velo com Henrique Galvão, que Soutomaior considera um traidor à causa, e com Humberto Delgado. Além disso, este livro explica também o papel desempenhado pelos norte-americanos e os brasileiros no desfecho da operação, nomeadamente no campo do apoio que estes países deram à luta anticolonialista. O ataque ao Santa Maria inseriu-se não só na luta contra as ditaduras ibéricas mas também na luta contra o colonialismo. E aqui os portugueses não tinham a mesma visão das coisas. A tese de Galvão é a de que do assalto resultou uma vitória. Para Soutomaior, no entanto, foi um fracasso. Para o capitão, foi um acto de heroicidade lusitana, para o comandante, um esforço frustrado de um colectivo galaico-português.

As origens políticas de Delgado e Galvão e de Velo e Soutomaior auguravam um relacionamento difícil?
Os detractores de Delgado e Galvão apodaram-nos de "fascistas dissidentes", por serem figuras directamente ligadas ao Estado Novo e às suas instituições, enquanto Velo e Soutomaior têm um passado de luta no campo republicano e antifranquista. Além disso, os galegos são pela independência das colónias como forma de se alcançar subsequentemente a democracia na Península Ibérica, ao passo que Delgado e Galvão entendem que as colónias fazem parte do "património histórico" de Portugal.

Pode associar-se a tomada do paquete ao início da guerra colonial em Angola, no dia 4 de Fevereiro de 1961?
Pode. Um dos sentidos estratégicos da operação seria o rumo a Angola, onde a situação estava preparada. Em que medida haverá em tudo isto mão americana, eis a questão. A Marinha dos EUA, mau grado a radiogoniometria, só localizou o Santa Maria quatro dias depois, permitindo que fosse uma plataforma de propaganda mundial contra a política colonial de Salazar.
O arranque da insurgência em Angola decorre de apoios americanos, antes de a URSS se comprometer, através de Cuba, no esforço de guerra civil que levaria à independência de Angola. Sucede que o DRIL era um movimento de galegos apoiado pelo regime cubano de Fidel Castro, de ascendência galega. Eis nisto as contradições estratégicas da operação e, afinal, da história da "descolonização exemplar".

LANÇAMENTO: 22 Set., 18h30 Museu de Marinha, Lisboa

APRESENTAÇÂO: 2 de Out., 21h30 Pátio de Letras, Faro

16/09/10

Imagens da Homenagem a Francisco Zambujal no Pátio de Letras

duas  imagens da exposição na Livraria



uma imagem da exposição nas salas com entrada junto ao Bar


Exposições patentes até 8 de Outubro

Mesa da tertúlia (4 Set. à noite):
Pedro Bartilotti (Director Executivo da Homenagem), Mário Zambujal (irmão do homenageado) e Osvaldo Macedo de Sousa (Director Artistico da homenagem), tendo à sua frente os livros "Francisco Zambujal o Homem, o Farense, o pedagogo, o Mestre da Caricatura" e "As Caricaturas da Primeira República", ambos da sua autoria.


Intervieram também por parte da "mesa", os caricaturistas intervenientes na pintura do painel de azulejos que no dia 8 de Outubro será colocado na "sala Francisco Zambujal", na escola de São Luís:
Fernando Madeira, Ricardo Galvão, Pedro Ribeiro Ferreira e Carlos Laranjeira



de onde estas foram "copiadas" com consentimento presumido :)

15/09/10

POLÉMICO: "EU ROUBEI O STA. MARIA

no prelo


APRESENTAÇÂO: 2 de Out., 21h30 Pátio de Letras, Faro
por JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS, tradutor e prefaciador do livro de JORGE SOUTOMAIOR, o operacional galego que, com Henrique Galvão, comandou o assalto ao paquete de luxo Sta. Maria, ocorrido a 22 de Jan. de 1961. Já nas máquinas da tipografia, este livro – desconhecido até agora em Portugal – lança uma nova luz sobre muitas ideias feitas (“à medida da oposição” ao regime de Salazar) relativamente a um episódio da nossa História da resistência à ditadura, ideias estas que encontram, aliás, expressão clara no filme de Francisco Manso a estrear ainda este mês – “Assalto ao Sta. Maria” (como pude constatar na ante-estreia ocorrida no passado dia 13, no cinema São Jorge, em Lisboa).

Na Revista Actual do Expresso deste próximo fim de semana, larga menção ao livro e acontecimentos históricos nele relatados.

Sinopse:
Livro de revelações sensacionais, “Eu roubei o Santa Maria” conta das negociações secretas conduzidas por Jorge Soutomaior e Álvaro Lins para a compra de torpedeiros que afundassem o “Vera Cruz”, que um mês depois transportaria tropas para Angola. Acto que Galvão impediu.

«Tendo em conta a agitação subterrânea existente em Portugal, agudizada pela captura do Santa Maria, a tentativa no Vera Cruz e o descontentamento na Marinha, o Governo de Salazar estava obrigado a manter tropas suficientes na Metrópole. Por pouco que as colónias se movimentassem, ver-se-ia na necessidade de elevar os contingentes de recrutas, impor os maiores sacrifícios ao povo, pedir ajuda aos membros da OTAN e a Espanha, apoiando-se no Pacto Ibérico. Quer dizer: com o tempo poderia reunir forças suficientes para fazer frente, com êxito, à sublevação africana e eternizar a guerra. Daí que o MNI deveria ampliar na Metrópole a luta em todas as direcções, desenvolvendo a consciência popular contra a guerra colonial. Em linhas gerais era esta a concepção da minha estratégia, a qual foi aceite pelo DRIL e partilhada por um grupo importante de portugueses. Para tal fim, ajudado por Álvaro Lins e por um Capitão de Mar-E-Guerra brasileiro, iniciei negociações - sem o conhecimento de Galvão - para adquirir duas lanchas contra-torpedeiros de uma determinada potência europeia (…). Preço no lugar de construção: 362 000 dólares. Condições de entrega no lugar que indicássemos: compromisso escrito de que Portugal sairia da OTAN quando a oposição, dirigida por Galvão, subisse ao poder. (…) Um mês depois o Vera Cruz navegava pelo golfo da Guiné, transportando 1 500 soldados e equipamento para a guerra de Angola. O Vera Cruz teria sido afundado sem misericórdia; mas numa pequena enseada na Costa da Guiné não havia lanchas torpedeiras, por causa do Galvão».

clicar na imagem para aumentar/ler

02/09/10

República - a visão do historiador Fernando Rosas


hoje e por ora em longa entrevista ao jornal "i", a propósito do CENTENÁRIO DA REPÚBLICA, que pode ler aqui.

"Ao Vivo" ... no Pátio de Letras, na 3ª f , 21 de Set., às 21h30:
PORQUE VIVEU E PORQUE MORREU A I REPÚBLICA

01/09/10

Faro homenageia Francisco Zambujal

No Região Sul (negrito da nossa responsabilidade)

«A Câmara Municipal de Faro, em parceria com diversas entidades do concelho, vai homenagear o artista Francisco Zambujal, um dos melhores caricaturistas portugueses de sempre.

O programa de homenagem ao antigo professor e caricaturista do jornal A Bola, que nasceu no Alentejo mas viveu em Faro durante quase toda a sua vida, inclui várias exposições, a pintura de um mural, uma tertúlia e a atribuição do seu nome a uma das ruas da cidade.

O calendário de eventos abre no próximo sábado, dia 4, com uma série de iniciativas, que arrancam com uma sessão solene na sede da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA), às 15:00 horas.

Depois da apresentação do álbum «Francisco Zambujal – O Mestre da Caricatura», de Osvaldo Macedo de Sousa, segue-se a leitura de poemas por Joaquim Teixeira e a inauguração da exposição «Caricaturas de Francisco Zambujal», sob o tema «Amizade».

Às 17:00, decorre a visita ao mural que estará em execução em frente ao Centro Comercial Atrium. Este mesmo espaço, situado na Rua de Santo António, acolhe a mostra «O Humor e o Desportivo», a ser inaugurada logo depois. ~

Durante a noite, destaque para uma tertúlia sobre o tema «Francisco Zambujal, o artista internacional da caricatura» que decorrerá, a partir das 21:30, no Pátio de Letras, local que recebe a exposição ««O Homem, o Artista, os Farenses».

Às 23:30, decorre na Sociedade Recreativa “Os Artistas” a inauguração da mostra «Os Políticos e as Artes, a sociedade na caricatura de Francisco Zambujal».

O programa de homenagem encerra dia 7 de Setembro, Dia da Cidade de Faro, com a inauguração da Rua Francisco Zambujal, às 12:00.»

George Steiner, o transporte para São Cristóvão de A. H...

«When I turned against the Jews, nobody came to his aid. Nobody...»
George Steiner, The Portage to San Cristóbal of A. H. (1979)
Às vezes apercebo-me com alguma mágoa do tempo desmedido que alguns textos de referência internacional levam a ser vertidos para português, se não se tratar de grandes êxitos editoriais confirmados. É o que se passa, por exemplo, com O Transporte para San Cristóbal de A. H. (2007), que George Steiner deu à estampa em 1979, na Kenyon Review, e logo confiou à forma de livro em 1981. Cerca de trinta anos separam a versão inglesa da traduzida para o nosso idioma. Nesse período de espera, o romance foi adaptado ao teatro e levado à cena em Londres e outros palcos que o «Posfácio» do autor, datado de 1999, não especifica. A polémica criada em torno da obra terá sido geral. Que me tenha dado conta, nenhum eco chegou até mim. Pura distração. Outros ouvidos mais atentos terão captado o rumor e falado com os editores. Duvido. O mais provável é que a fama do grande homem da cultura germano-franco-britânica, de origem judaica e pais austríacos, explique a publicação gradual de todos os seus escritos entre nós, incluindo os ficcionados.

O título, algo obscuro para quem desconheça os meandros da controvérsia, remete-nos para um enigmático A. H., que o leitor desprevenido identificará, e bem, com o protagonista do relato. A sigla, mantida estrategicamente no reino das incógnitas, só será desenvolvida, com todo o recato, sem muitas pressas e parcelarmante, no final do terceiro capítulo, que termina com as palabras «Herr Hitler». O alegado nome completo do «homem muito velho», capturado no fim do mundo, no interior da selva amazónica, entre o Brasil e a Bolívia, só será documentado por extenso bastante mais à frente e sem grandes pudores. O mistério da identidade da personagem novelesca estava desvendado, altura de deslocar o centro das atenções para a identificação da personalidade histórica retratada. Questionar a versão oficial da morte do chanceler alemão com a verdade dos factos vividos em privado no derradeiro dia do mês de abril de 1945 no Füherbunker de Berlim. Averiguar, em suma, se o cadáver semicarbonizado ali encontrado pelas tropas soviéticas corresponderia ao do ditador derrotado ou ao de um mero duplo que terá sido sacrificado em seu nome.

A «narrativa ficcional» desenvolvida por Steiner envereda, precisamente, por esta última hipótese, resumida no conhecido princípio literário da «ucronia» definido por Umberto Eco, i. e., imaginar «o que teria acontecido se aquilo que realmente aconteceu tivesse acontecido de maneira diferente»*. Neste caso concreto, medir as consequências da sobrevivência de A. H. ao III Reich e posterior refúgio na floresta virgem sul americana. O seu transporte para São Cristóvão é, tão somente, a primeira etapa de uma peregrinação maior que o leitor está arredado de seguir. Os preparativos de um julgamento supranacional são referidos, as dificuldades processuais adiantadas, as pressões políticas asseguradas. A vontade exercida pela instância narrativa ou a economia do discurso remetem-nos para o universo das suposições nunca concretizadas. É que um dos segredos da arte de contar histórias com palavras reside nos silêncios que consegue espalhar ao seu redor.

Lido o texto, inteiramo-nos que o romancista-ensaísta põe na boca dos atores do drama um conjunto de tópicos recorrentes e sobejamente comentados. Os nomes de deus, os erros da palavra, a questão judaica, as memórias da história, a música e as coordenadas do tempo. Alguns outros se poderiam agregar. Fiquemo-nos por aqui. O problema da comunicação entre os homens está patente em todo o corpus textual, materializado no cruzamento de línguas, culturas, fontes e testemunhos em confronto. O poder de argumentação posto ao dispor do fantasma-vivo de A. H. como mestre da palavra é surpreendente e motivo de todas as polémicas. A verdade almejada habitará com certeza no interior desse labirinto feito de conceções contraditórias. O problema está em conseguir alcançá-la sem recorrer à intervenção divina, tão ausente do nosso quotidiano desde que os redatores do(s) Livro(s) das revelações compuseram o derradeiro parágrafo. Na visão do criador, este Transporte «é uma parábola sobre a dor (...) a dor da recordação, a imperativa mas intolerável dor da lembrança». Por isso foi «escrita com dor». Não o duvidamos, conhecendo minimamente a crueza dos factos. A leitura da «fábula» poderá também ela ser fonte de dor. Tudo depende dos olhos que leem, da forma como veem e do modo como sentem.

NOTA
* Umberto ECO, «Os mundos da ficção científica», in Sobre os Espelhos e outros ensaios. [1985]. Lisboa: Difel, 1989, p. 202.