ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

30/12/09

O Livro da Casa


Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas (prémio instituído pelo Centro Cultural Regional de Santarém, com o intuito de estimular a criação poética)


sobre o autor, Fernado Cabrita: clicar neste link


escrito por José António Barreiros (aqui):


Li-o e de repente surgiu-me o nome: Ezra Pound. Hesitei, mas a musicalidade era essa, familiar, guerreira mesmo quando e pacífica, idêntica a virulência torrencial dos versos, o grito e o clamor em estrofes inesperadas. Encontrei-o então na página 82, o «Poema Triste para Ezra Pound», o poeta maior enjaulado como ficou na memória punitiva, conspurcado pela sua adesão fascista, pecado político a obnubilar o génio poético, louco animal rude «ó poeta velho, ó lobo triste/soldade de penas vãs e vagas». Reconheci-os ambos o autor e o seu estro.

Falo do livro de poemas de Fernando Cabrita. Um Canto em múltiplos cantares.

Sabia-o Advogado, olhanense, escritor, mas não o sabia pintor e é dele o quadro que engradece a capa. Sabia-o poeta mas hoje senti-o poeta. A um artista nenhuma Arte é indiferente. Escreve-se na tela escorrem cores desta escrita.

São versos entre si diferentes mas em torno de uma mesma casa, do homem que «percebeu então que construíra a casa - e que a casa, entretanto, o construira a ele». São versos de uma «casa sem nome», versos marítimos de grumete velho devolvido ao mar inicial «velho camarada». Versos de contemplação amorosa, íntima, casta no impudor de ousar amar.

Há nesta poesia um anseio de lar, poemas de um exército derrotado pela longa viagem imperial, saudades de marinheiros porque «breve foi a casa que o temporal varreu», a febre ultramarina dos arqueiros «aguardando uma voz que os conduza a casa. Sempre a casa, a primeira, a segunda, a última casa.

São poemas a Sul, como «o voo livre das âncoras sepultadas nos abismos», poemas de uma janela para a intemporalidade de onde se pressente o mar «pelo cheiro a nevoeiro e as rochas molhadas», e «as recordações ténues de sons e livros e casas e beijos e coisas doces».

Não sou crítico literário porque escrevo e estou contente com o que escrevo e há sempre uma palavra amável que diga de quem se atreve a escrever, a quem arrisca nome, cara, expõe aos públicos as entranhas do sentimentos, o coração da sensibilidade. Sem inveja, sem rancor, sem maldade, com amizade.

Tinha tentado ler há dias o livro num dia de distração. Não se faz um tal crime a uma obra como esta. Hoje o dia deu-me uma nesga de oportunidade. A estupidez organizada de que faço vida impediu-me de ir ao lançamento.

De todos os versos permitam que escolha um, não o de Macias «Macias, o sem lar/mas cujo tecto era feito de todos os tectos/e o colchão era toda a planície/ e o alimento era todo o manjar e todos os manjares/e o amor era o amor que todo o mundo tivesse para dar», que é um momento de beleza dorida. Não o de Macias, apesar de me apetecer lê-lo em cada palavra e soletrar-lhe cada letra. Mas escolho a fala derradeira de «Enrique de Borgonha, no leito de morte em Astorga» quando «fala ao pequeno Afonso», seu filho: «Agora que os corcéis da morte cavalgam já/no meu encalço, e sinto os seus cascos/trotando em minha alma» ele, Enrique, «romeiro de San Jacob e lidador de guerras e conquistas» está em paz: «Nesta hora, amigos e inimigos têm já em mim//o mesmo rosto/e não caem neles ódios ou rancores, amizades ou estimas/tão só a rude melancolia de saber que já na morte me esperam/e fraternalmente nela nos reconheceremos/como no regaço de uma mãe antiga».

Chora-se ao ler isto. «Doma as perdas e os fracassos, e bem assim os triunfos/como um cavalo que te leve para onde tu queres ir/e não para onde ele queira./Sê dono sempre dos teus mesmos passos/e do teu próprio caminho».

Obrigado ao dia que me permitiu ler, obrigado a quem escreveu. Parabéns à Gente Singular, editores.

19/12/09

alguns dos livros sobre MÚSICA no Pátio de Letras

O RESTO É RUÍDO - À ESCUTA DO SÉC. XX, de Alex Rod (Casa das Letras) - PVP 27 €

Por toda a parte se faz sentir a influência da música moderna. Sons vanguardistas inundam as pistas sonoras dos filmes de suspense de Hollywood. A música minimalista produziu um enorme efeito sobre o rock e o pop, desde os Velvet Underground até ao compositor de música electrónica Aphex Twin. Alex Ross, o brilhante crítico musical do The New Yorker, faz jorrar uma brilhante luz sobre este mundo e mostra como ele impregnou todos os recantos da vida do século XX.
Nesta abrangente e documentada narrativa, Ross conduz-nos desde a Viena de antes da Primeira Guerra Mundial, até Paris dos anos vinte; desde a Alemanha de Hitler e da Rússia de Estaline, até à downtown de Nova Iorque dos anos sessenta e setenta. Acompanhamos a ascensão da cultura de massas e da política de massas, a ocorrência das novas e espectaculares tecnologias, das guerras quentes e frias, de experiências, de revoluções, de tumultos e de amizades feitas e desfeitas.
O resultado final não é tanto uma história da música do século XX, mas sim uma história do século XX através da sua música.
PORQUE É A MÚSICA CLÁSSICA AINDA IMPORTANTE ?, de Lawrence Kramer (Bizâncio) PVP 15 €
É o que se pergunta Lawrence Kramer neste belo e penetrante livro, primorosamente escrito. Em sete capítulos muitíssimo originais, Kramer afirma a importância da música clássica revelando quais são os seus valores. Esta obra liberta-nos também de velhos preconceitos. Ao contrário de outros autores, cuja defesa da música clássica assenta frequentemente em argumentos acerca da influência nociva da cultura popular, Kramer admite que o universo da música clássica precisa de uma filosofia mais aberta e mais actual. A obra cativa ao explicar a relação complexa da música com motivações individuais e necessidades sociais mais vastas. Numa prosa original, estimulante e directa, explora a natureza da subjectividade, a vitória sobre o tempo e a mortalidade, a harmonização da humanidade e da tecnologia, a aprendizagem da atenção e a libertação da energia humana que a música clássica proporciona.

Outros da Bizâncio:
ESTÁ TUDO LIGADO - O PODER DA MÚSICA, de Daniel Barenboim - PVP 15 €

HAYDN - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de DAVID VICKERS – PVP 16,50
MENDELSSOHN - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de NEIL WENBORN - PVP 16,50 €
PUCCINI - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de JULIAN HAYLOCK - PVP 16,50 €
TCHAIKOVSKI - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) - de JEREMY SIEPMANN - PVP 16,50 €
WAGNER - VIDA E OBRA, de STEPHEN JOHNSON - PVP 16,50 €
HISTÓRIA CONCISA DA MÚSICA OCIDENTAL, de PAUL GRIFFITHS – PVP 18 €

LIÇÕES DE MÚSICA, de STEPHANIE CREASE – 15 €
Este livro é o melhor guia prático para ajudar as crianças a aprenderem a tocar um instrumento musical. Agora que os cortes orçamentais e outros factores desferem um rude golpe no ensino da música, os pais precisam de dispor das ferramentas necessárias para a educação musical dos seus filhos. A presente obra está repleta de conselhos valiosos de professores de música, pais e das próprias crianças. Lições de Música ajudá-lo-á a descobrir qual o método de ensino certo para o seu filho, a escolher um instrumento e a incentivar o seu filho na prática do instrumento escolhido.

UMA PAIXÃO HUMANA: O SEU CÉREBRO E A MÚSICA, de DANIEL J.LEVITIN - PVP 19,90 €

Este é o primeiro livro que conduz a um entendimento científico abrangente sobre o modo como experimentamos a música e sobre o papel ímpar que desempenha nas nossas vidas. Esta investigação sem precedentes do papel da música na evolução humana e no nosso quotidiano abarca a Psicologia, a Neurociência e exemplos musicais de Mozart a Eminem, passando por Bach, Count Basie, Creedence Clearwater Revival e tantos outros.
Uma Paixão Humana é um encontro entre os dois mundos magníficos da Arte e da Ciência e está destinado a ser um marco na história da cultura.

de editoras várias:
HISTÓRIA DA MÚSICA PORTUGUESA, de JOÃO DE FREITAS BRANCO (Europa-América) – PVP 30,40 €
BREVE DICIONÁRIO DE MÚSICA, de RICARDO ALLORTO (Ed. 70) – PVP 13,10 €
HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL, de DONALD J. GROUT, CLAUDE V. PALISCA (Gradiva) – capa dura PVP 37,50 €
ATLAS DE MÚSICA – vols I e II, de ULRICH MICHELS (Gradiva) – PVP 29,50 € (I vol) e 39 € (II vol)
MÚSICA CLÁSSICA: OS GRANDES COMPOSITORES, de JOHN STANLEY (Estampa) – PVP 35,10 €
ABC DA MÚSICA, de MARTINS FONTES (LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA) – PVP 29,40 €
QUE É A MÚSICA, de CARL DAHLHAUS, HANS EGGEBRECHT (Texto e Grafia) – PVP 16 €
ILLUSTRATED ENCYCLOPEDIA OF MUSICAL INSTRUMENTS - Ed. KÖNEMANN VERLAGSGESELLSCHAFT MBH (álbum) – PVP 24,15 €
AMADEUS- A VIDA DE MOZART, DE CLAUDIO CASINI (Europa-América)

MÚSICAS DA MINHA VIDA, de ANTÓNIO VICTORINO DE ALMEIDA (Dom Quixote) – PVP 14,40 €
TODA A MÚSICA QUE EU CONHECO VOL. I e II - ANTÓNIO VICTORINO DE ALMEIDA (Oficina do Livro) – PVP 27 € (I vol) e 25 € (II vol)

MUSICÁLIA, de Fernando Lopes Graça – PVP 12,60 €

ARABESCO - DA MÚSICA ÁRABE E DA MÚSICA PORTUGUESA, de Adalberto Alves (Assírio & Alvim) – PVP 8,50 €
SOBRE MÚSICA: ENSAIOS, TEXTOS E ENTREVISTAS, de António Pinho Vargas (Afrontamento) – álbum – PVP 20 €

BIOGRAFIAS /livrops sobre Tom Waits, Suzanne Vega, Velvet Underground, Laurie Anderson, David Byrn, Jan Morrinson, Ian Curtis, Lou Reed, John Lennon, Sting, Madonna, Michal Jackson ... e muitos mais

CONTIGO TORNO-ME REAL, de Pedro Rui Silva (Ed. Afrontamento) - PVP 14 €Este livro não pretende mistificar nem muito menos mistificar Jim Morrison. Toda a essência reside num esforço partilhado de homenagem e, muitas vezes, de aproximação à sensibilidade do homem, do poeta e à ousadia da estrela de rock, através de um projecto de escritas partilhadas que incidem em memórias, impressões, sentimentos e experiências únicas vividas por cada participante na abordagem a Jim Morrison e, por vezes, aos Doors.
Neste livro está igualmente incluída a participação de alguns dos mais reputados músicos portugueses, um magnífico projecto de mural, que nunca foi publicado em nenhuma parte do mundo, mas autorizada para a presente edição, e algumas fotografias inéditas. Os próprios biógrafos dos Doors participam neste livro, assim como a sua fotógrafa e inúmeros amigos e fãs de Jim Morrison.

Infantis:

(Oficina do Livro) - PVP 13 €

O MEU PRIMEIRO CHOPIN, de Rosa Mesquita, Carlos Martins Pereira (Dom Quixote) – inclui CD - PVP 14,40 €
O MEU PRIMEIRO MOZART, de António Cartaxo, Pedro Machado, Rosa Salvado Mesquita (Dom Quixote) - inclui CD - PVP 14,40 €
SEMENTES DE MUSICA PARA BEBÉS E CRIANÇAS, de Ana Maria Ferrão, Paulo Ferreira (Ed. Caminho)inclui CD – PVP 14,90 €
CANTA O GALO GORDO, Poemas e Canções para Todo o Ano, de Gonçalo Pratas, Inês Pupo (Ed. Caminho) inclui CD – PVP 12,90 €

18/12/09

José Saramago e as desconcertantes errâncias de caim pelo mundo

«A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.»
José Saramago, Caim (2009)
O Caim (2009) de José Saramago não é uma obra maior. Os tripulantes da «barcarola voadora» e da «jangada de pedra», os «levantados do chão» e assediados do «cerco de lisboa», os sumidos no «ano da morte» aí estão a impedi-lo. Estará talvez ao nível de um «salomão», o tal elefante quinhentista em trânsito terrestre entre Lisboa e Viena de Áustria. Também não é, decididamente, uma obra menor. O estilo inconfundível do autor nunca o permitiria. Está lá todo. Cada vez mais pujante. Só que nos conta histórias muito antigas, sabidas e ressabidas, desgastadas pelo uso e abuso que têm sido alvo no decorrer dos dois / três últimos milénios.

Polémicas à parte, o romance mais não faz do que revisitar o Livro dos Livros e tentar reduzir ao absurdo a lógica ancestral ali coligida à luz dos conhecimentos actualmente postos à nossa disposição. A ideia de um deus cruel e vingativo, engendrado pelo imaginário colectivo dos inventores do monoteísmo, é dissecada pela instância narrativa, como se tivesse sido criada pelas mentes sofisticadas dos nossos dias. O resultado afigura-se-nos um pouco frustrante.
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A gesta ficcionada de Caim quase se confunde com as fortunas e adversidades dos andarilhos marginais que a inventiva castelhana dos séculos dourados pôs à disposição de todos nós. Oriundo de uma linhagem caída na desgraça (Adão e Eva), este protótipo bíblico de pícaro malfadado desenvolve um processo de ciúmes pelo irmão mais novo (Abel) e mata-o. Marcado na testa com o estigma do «senhor», é obrigado a encetar uma ininterrupta peregrinação pelo mundo, o que lhe proporcionará uma longa e penosa aprendizagem das tragédias da vida, ou, se preferirmos, das «intermitências da morte». Transformado por força de circunstâncias mal apuradas num viajante involuntário do tempo, de deslocar consigo o presente da sua existência, «ora para a frente ora para trás», o ilustre proscrito é levado a testemunhar alguns dos episódios mais sangrentos do Génesis e do Êxodo, que nunca se coíbe de comentar e criticar.

Protegido uma ou outra vez com oportunos nomes de empréstimo (Abel e Noah) e entregue a providenciais actividades laborais de subsistência (agricultor, pisador de barro, porteiro, ajudante de alveitar, rastreador, cuidador de burros), dedica-se à ingrata tarefa de recolher a «prova irrefutável da profunda maldade do senhor». Adão e Eva são expulsos do «jardim do éden» só por terem querido saber distinguir o «bem» do «mal», votando todos os descendentes ao anátema do «pecado original». Caim tira a vida a Abel, mas em contrapartida dá um filho a Noah, engravidando-lhe a mulher Lilith. Consegue salvar a vida de Isaac, impedindo Abraão de o sacrificar ao altíssimo, mas não obtém o perdão do «senhor, também conhecido como deus».

A imprudência divina de criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança terá sido o maior «erro» da sua eterna presença. Depois, intentou emendar essa distracção, massacrando a torto e a direito «culpados» e «inocentes», para grande espanto de Caim. Em desespero de causa, tenta afogar toda a população terrestre, incumbindo Noé de fundar uma nova era na história da humanidade e dos restantes seres viventes. Caim não permitirá que o «erro» se volte a repetir. Enfrenta o «senhor» e derrota-o em todas as frentes, conseguindo o estatuto de herói que os anti-heróis pícaros clássicos nunca lograram obter. O exemplo do amo celestial tinha-lhe servido de suprema e eficientíssima lição. É a morte que dá verdadeiramente sentido à vida.

José Saramago terá cometido a ingenuidade de ler a Bíblia em sentido próprio, de a ter reduzido a um mero rosário de relatos fabulosos que o mais elementar bom senso remete para o universo dos sentidos figurados. A própria Igreja aconselha esta fuga em frente. Mas, ao fazê-lo, a versão do romancista acaba por ser tão válida como qualquer outra. A qualidade literária tem muito pouco a ver com o sagrado. A efabulação termina com a frase lapidar: «A história acabou, não haverá nada mais que contar». Conhecendo o autor como conhecemos, duvidamos que essa decisão seja de fiar. Bem vistas as coisas, os leitores só têm a lucrar com uma tal eventualidade.

Sábado19, 22h - ESFINGE-O MITO

11/12/09

ler e respirar 14

Luís Pacheco ou Rui Ramos?

Os dois!

Na Biblioteca Nacional inaugurou-se uma exposição (uma bela exposição!) sobre Luís Pacheco. É seu comissário Luís Gomes, um homem das arábias, um livreiro alfarrabista de mão cheia e um coleccionador. E um homem de cultura. Pacheco sai engrandecido desta excelente exposição que, por ironia, se realiza num dos locais que ele provavelmente zurziria mesmo que, como se sabe, Pacheco nem sempre encontrava o alvo justo. Todavia, ninguém pode negar que se tratou de um escritor interessantíssimo, de um editor fora do vulgar, de um agitador cultural ímpar, sobretudo se nos lembrarmos quando, onde e como começou.

Paralelamente, sempre sob os cuidados de Luís Gomes, a D. Quixote lançou em co-edição com a Biblioteca Nacional um sumptuoso catálogo onde está tudo ou quase. Trezentas e oitenta páginas ilustradíssimas, um regalo! Luís Gomes não se poupou a esforços, reuniu uma impressionante quantidade de livros, manuscritos, postais sei lá o quê.

Leitores, este catálogo é uma prenda de Natal fora de série e já está à venda. Apressem-se e aproveitem. Algum parente, com falta de imaginação pode ser estimulado a abrir os cordões à bolsa, que diabo.

Outro parente tão generoso como o primeiro pode aparecer com a “História de Portugal” debaixo do braço. É um tijolo, convenhamos, mas Rui Ramos, um dos autores e seu coordenador conseguiu o impossível: fornecer um handbook da história pátria rigoroso, inteligente, bem informado, sucinto quanto baste, enfim, um digno sucessor da velha experiência de Oliveira Marques que tanto marcou a minha geração. E lê-se bem, desenfadadamente, mesmo se o peso do livrinho seja apreciável. Sempre são cerca de mil páginas!

Com Rui Ramos são co-autores Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro. Malta nova, com genica, ainda bem. A edição é da Esfera dos Livros.

Bom Natal! Boas leituras!

09/12/09

José António Barreiros: "não se brinca com facas"

A estreia de José António Barreiros no Romance

Disponível dentro de dias no Pátio de Letras
(apresentação no Pátio em 2010)


Adenda a 12 Dez:
já à venda no Pátio de Letras; PVP 12 €

05/12/09

"Devorem Poesia!"

artigo de Ana Oliveira, no Jornal do Algarve, 3/12/09

"Foi no dia 28 de Novembro que o Pátio das Letras teve a honra de lançar a nível nacional o último livro de Teresa Rita de Fernando Lopes. Desta vez foi mais um livro de poemas a que a autora intitulou O Sul dos Meus Sonhos.
A representar a editora Gente Singular esteve Rosa Mendes, que se congratulou pelos dois anos de vida desta recente editora, regional mas não regionalista, como fez menção de realçar.
(...) O facto de Teresa Rita Lopes ter escolhido a editora Gente Singular para lançar o seu livro de poemas foi, segundo Rosa Mendes, motivo acrescido de orgulho e satisfação, não só por Teresa Rita Lopes ser o vulto reconhecido na cultura portuguesa, mas também por ser algarvia, mais concretamente de Faro.

(...) Rui Moura musicou alguns poemas da autora, aguçando o apetite do público para a leitura daquelas palavras com sabor a Sul, como o poema que diz: "Ruas de Alcoutim/Calçadas com pedras da Ribeira".

A José Louro, amigo de longa data desta autora, seu colega de curso, coube a tarefa de apresentar o livro O Sul dos Meus Dias. Um curso, que segundo o professor, gerou uma forte contribuição para a cultura, sobretudo por parte de algarvios. Num clima informal, de amigos que se estimam e admiram há largos anos, José Louro ou-sou falar da escrita de Teresa Rita Lopes. Começando pelos olhos e pelo olhar especial que encontra na mulher algarvia, José Louro foi discorrendo sobre a escrita de Teresa Rita, detendo-se especialmente na sua escrita para teatro, mais concretamente no texto que encenou para a Companhia de Teatro do Algarve, ACTA, intitulado As Tranquilas Aventuras do Diálogo, interpretado magistralmente por Luis Vicente, Jorge Soares e Pedro Ramos. Falou da poesia de Pessoa em diálogo com Álvaro de Campos e com Jorge Luis Borges, falou da nudez dos corpos que se podem dissolver em poesia e da aventura que foi pôr em cena um texto de Teresa Rita Lopes.

Quanto ao Sul dos Meus Sonhos, José Louro preparou uma apresentação em articulação com o actor Rui Cabrita, que lia os poemas que José Louro ia nomeando. Um poema que mereceu especial destaque para José Louro foi aquele em que Teresa Rita confessou "Hoje fiz gazeta e fiquei em casa". Parafraseando Mário Césariny e o seu magnífico poema "Há uma hora, há uma hora certa/que um milhão de pessoas está a sair para a rua / Há uma hora desde as sete e meia horas da manhã/que um milhão de pessoas está a sair para a rua", José Louro encontrou um ponto de ligação com o verso "hoje falto ao escritório, pontualmente, todas as manhãs" e elogiou esta coragem de fazer gazeta e conversar com as plantas, nomeando-as e olhando o rio Tejo do cimo do seu "jardim suspenso" em Almada.

Para José Louro, o livro de Teresa Rita Lopes divide-se entre o berço de Faro, o mar de Cacela, os montes de Alcoutim, os jardins suspensos sobre o Tejo da sua casa em Almada. Este livro é o testemunho do sentimento de pertença a este Algarve que Teresa Rita nunca renegou. O poema "sou daqui" é bem o exemplo desse orgulho de mulher algarvia que, apesar de cosmopolita, da sua vivência de 13 anos de professora universitária em Paris, da cátedra na Universidade Nova de Lisboa, nunca esqueceu. Não esquece as amendoeiras, as amoreiras, oferecendo-se generosamente a quem queira provar das suas amoras.
Da velha amendoeira descobre que "diz que sim à vida/ e fica de repente menina e noiva." Para Teresa Rita Lopes, "os meus sonhos situam-se sempre a Sul. Faro, Cacela ou Alcoutim. Cenários da minha infância de filha única a brincar sozinha. A esses sítios regresso em sonho ritualmente. Talvez para me encontrar com quem era e pressentir quem sou."

Foi uma honra para Faro que o quarto livro de poemas desta autora premiada com o prémio de Poesia da Câmara Municipal de Lisboa, o grande prémio de ensaio Unicer, o prémio de ensaio Pen Club e o prémio Eça de Queiroz de Poesia tenha sido apresentado na sua cidade natal, num dos locais que já é referência para o património cultural da cidade: o Pátio das Letras."


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04/12/09

Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, o livro do meio ou das ligações perigosas

«Ensaiemos pois, em silêncio, o percurso do nosso dueto, a ouvir o Scarlati.»
Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, O Livro do Meio (2006)
Sempre ouvi dizer que Lisboa é uma grande aldeia, onde todos se conhecem ou fingem ignorar, onde uns e outros cultivam, sem excepção, os seus amores/ódios de estimação. Mais os segundos do que os primeiros, como convém. Os profissionais da escrita não fogem a esta regra de ouro do escárnio e maldizer nacionais. A diferença é que o fazem com uma inequívoca e inexcedível mestria. E nós, pobres mortais, sedentos de palavras bonitas (mesmo quando dizem coisas feias), até aplaudimos. Há séculos que o fazemos impunemente.

Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa recorreram a esse velho hábito que a tradição canonizou. Fizeram uma incursão combinada à meninice, cartearam-se durante alguns meses e alinharam um «romance epistolar», a que chamaram O Livro do Meio (2006). Aquele que se situa no cruzamento de duas escritas estripadas de todo o tipo de preconceito, concebidas ao jeito de uma «marquise de Merteuil» e de um «vicomte de Valmont», personagens novelescas criadas por Pierre de Laclos nas Liaisons dangereuses (1782); ou à imagem e semelhança da experiência que a autora tivera na composição das Novas Cartas Portuguesas (1972), integrada no grupo das «Três Marias»; ou do autor na tradução da Correspondência a três (2006), que Rilke, Pasternak e Tsvétaïeva terão partilhado no verão de 1926. Títulos frequentemente citados e glosados no decorrer dos diálogos travados à distância e em fragmentos repartidos.

As fontes de inspiração seguidas pelo «dueto» terá servido de perfeito álibi explicativo de muitas das liberdades tomadas nessas memórias feitas de realidades pretéritas, actualizadas ao sabor do momento, de cumplicidades pressentidas, mas nunca reveladas na sua totalidade. O leitor é confrontado com um discurso entremeado de claros subentendidos e de aparentes evidências que terá de enfrentar do lado de «fora do Livro», com toda a perícia que consiga agilizar para desenlear os fios da meada. A tarefa é árdua, mas os resultados deveras compensatórios. É que a fruição plena do prazer da leitura não tem preço.

As referências às obras de um e de outro são constantes. As apreciações que suscitaram aos críticos encartados do trabalho alheio ou de fazedores de ideias feitas são o pretexto para os mais inspirados jogos de disfarces encenados nas cartas. Os remoques satíricos dirigidos a todos aqueles que alguma vez se lhes tenham atravessado no caminho são impiedosos. É que «um puritano da boca é uma criatura perigosa». Os nomes são substituídos por siglas anódinas e epítetos sonantes, mas a força das descrições fornece-nos a chave das charadas sem grande esforço de descodificação. Que o digam a «Académica», a «Mnemónica» ou a «Embaixatriz».

Resumir essa longa conversa travada entre dois amigos de longa data, esse «coloquialismo intimista», seria uma traição que nenhum deles mereceria. A menos que nos limitemos a dizer que se trata de um livro que fala de arte e artistas, de música e compositores, de cinema e cineastas, de livros e autores, que fala, inevitavelmente, da vida e morte das paixões. É um livro que pretende promover uma «perigosa colaboração de classes», aquelas que cada um dos signatários das missivas representou nas origens. Ela a emergir de uma média burguesia urbana do Bairro Azul e Janelas Verdes, a saltitar entre a «Casa dos Gritos» e o «Palácio das Madres» ou das «Escravas do Sagrado Coração de Jesus»; ele a fugir de um proletariado rural remediado de uma aldeia cinzenta do litoral oeste, a saltitar entre a «Casa dos Choros» e a «Escola do Paraíso» ou «externato pobre para meninos ricos».

No final do percurso retrospectivo às «Casas da Infância», o cansaço dos caminhantes é notório. A escrita ressente-se da penosa caminhada. Armando Silva Carvalho despede-se entoando o «canto do viandante e das sombras». Maria Velho da Costa convocando o «sangue, coalhado e vivo». Pela parte que me toca de mero «leitor», de «anjo ou demónio desconhecido», com muita saudade de os ter visto acenar o lenço pela última vez, de os ter visto partir e de não continuar a desfrutar do prazer da sua presença. Arrebatadora, inebriante, sublime. Como sempre.

03/12/09

40 anos do MDM


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Algumas novidades

Algumas de entre as muitas novidades no Pátio. Clique nos títulos dos livros para ler as sinopses.

História de Portugal, Rui Ramos (coordenador), Esfera dos Livros


Na Cova dos Leões, Tomás da Fonseca, Antígona

Evocação de Sophia, Alberto Vaz da Silva, Assírio e Alvim


Chico Buarque - Histórias de Canções, Wagner Homem, Dom Quixote



O Sítio das Coisas Selvagens, Dave Eggers, Quetzal



Tubo de Ensaio, Parte II, Bruno Nogueira e João Quadros, Livros D'Hoje

O Meu Primeiro Chopin (com CD), Dom Quixote

O Meu Primeiro Torga, Dom Quixote

25/11/09

O ENVELHECIMENTO E A SEXUALIDADE


Em Novembro de 2009, a Associação para o Planeamento da Família comemora a Semana da Saúde Sexual que dedicou à vivência da sexualidade nos mais velhos.O crescente envelhecimento populacional torna evidente o esforço social de melhorar a qualidade de vida nos idosos. No que respeita à expressão da sexualidade, já por si um assunto tabu, torna-se ainda mais tabu quando relacionada ao idoso, sendo criados mitos que condicionam uma vivência saudável da sexualidade.
Esta conversa sobre a sexualidade no envelhecimento terá lugar no Patio@Bar, na 5ª f dia 26 às 18h e será moderada pelo enfermeiro Bruno Rocha e conta com a presença dos seguintes participantes:

António Sousa (sociólogo, presidente da APF)

João Barreiros (enfermeiro, direcção da APF)

Miguel Rodrigues (médico, serviço de Urologia)

Luisa Gomes (psicóloga, Associação Âncora)

Grupo de Jovens da APF Algarve (uma equipa empenhada em desenvolver um trabalho de promoção para a saúde)

23/11/09

Amin Maalouf, os jardins de luz do maniqueísmo


«Sois traître à l’Empire, s’il le faut, et rebelle aux décrets du Ciel, mais fidèle à toi-même, à la Lumière qui est en toi, parcelle de sagesse et de divinité.»

Amin Maalouf, Les Jardins de lumière (1991)
Amin Maalouf, jornalista e escritor libanês de língua francesa, estreou-se no mundo das letras com As Cruzadas Vistas pelos Árabes (1983). Seguiram-se-lhe uma dezena de outros títulos repartidos pelo ensaio, romance e libreto de ópera. O sucesso da obra cruzou fronteiras à escala mundial, transformando o autor num dos nomes de referência literária actual mais acatados pela comunidade internacional. O segredo tem residido no seu propósito de promover o diálogo constante do oriente com o ocidente, de fomentar o entendimento de todos os homens, de estimular o respeito pela diferença. Proeza facilitada pelo facto de ter sido cometida por um ser colocado entre dois mundos, entre dois padrões civilizacionais, entre dois paradigmas mentais, i.e., por espelhar a alma mediterrânea de um nativo árabe de criação católica exilado na Europa.

Essa experiência sui generis de vida e o gosto pelo discurso histórico empurraram-no para a composição de uma autêntica trilogia de biografias ficcionadas de grandes vultos da cultura universal, que o fenómeno da globalização tem vindo paula-tinamente a relegar para segundo plano ou mesmo a ostracizar. Depois de ter traçado nas páginas de Leão, o Africano (1986) e de Samarcande (1988) as principais etapas andarilhas do diplomata, geógrafo e humanista mouro de Granada Hassan Al-Wazzan / Jean-Léon de Médicis (1488-1548) e do poeta, matemático e astrónomo iraniano Omar Khayyam (1048-1131); Amin Maalouf conclui a série com Os Jardins de Luz (1991), onde nos convida a conhecer um pouco melhor a personalidade do pintor, médico e filósofo babilónio Mani ou Manes (216-274), o «Buda da Luz» para os egípcios, o «Apóstolo de Jesus» para os egípcios, o fundador do maniqueísmo para os vindouros, que somos todos nós.

O dualismo religioso patente no modelo profético apregoado pelo «Filho de Babel» resulta em grande parte dos percursos que a existência lhe foi impondo. A permanência forçada, por mais de vinte anos numa comunidade eremita de monges brancos, isolado dos homens e do mundo, a explicar-lhe a origem e explicação da intransigência; e as longas e continuadas peregrinações pelos espaços abertos do império sassânida, no seio das populações anónimas, a oferecer-lhe os germes de uma nova relação com o transcendente, ancorada na conciliação de todas as religiões. Na opinião do curador de corpos e almas, a verdadeira forma de assegurar a total liberdade do homem não pode partir da renúncia exclusiva ao mundo exterior, mas sim da descoberta do mundo interior que habita dentro de si. Só assim se poderá aproximar do «Pai», o «Todo Poderoso», única hipótese de vislumbrar a face do «Criador» de todas as coisas, o «Rei dos jardins de luz», sempre de braços abertos para acolher os inimigos das trevas.

Na luta incessante entre a tolerância e a intolerância, entre o bem e o mal, entre deus e o diabo, a vitória parece que tem vindo a inclinar-se para os segundos termos dos binómios destacados. Era assim nesse tempo recuado, continua a ser assim nos nossos dias. Ao manter-se coerente com as suas convicções pessoais, com as suas crenças e doutrinas, Mani deixou escapar a oportunidade de garantir a canonização da sua fé, a institucionalização da sua igreja e a sobrevivência do seu pensamento. O «mensageiro da paz» morreu martirizado quando aconselhou o imperador persa a resolver os conflitos bélicos com o imperador romano pela via diplomática. A força da guerra foi mais forte do que a da concórdia. As lições da História têm servido de pouco para a formação de todos nós.

Fundado no século III da era comum, como um sincretismo do zoroastrismo, do budismo e do cristianismo, o maniqueísmo é hoje em dia uma religião extinta e o seu fundador um profeta sem seguidores. Neste sentido, os sistemas religiosos alicerçados por Buda, Jesus e Maomé tiveram um destino bem diferente do idealizado por Mani. A humanidade que promoveu esta selecção natural que o diga. Amin Maalouf, pela sua parte, já cumpriu sobejamente a sua missão.

17/11/09

Joaquim Romero Magalhães no Pátio de Letras


Sábado dia 21, às 17h


No próximo sábado dia 21, às 17h, recebemos ANTÓNIO LAGINHA que simultaneamente com a apresentação de imagens, nos falará dos “Os Ballets Russes” - a mítica companhia que há 100 anos se estreou em Paris – “ e sua influência em Portugal”.



100 anos dos BR; a vida e obra do fundador dos BR – Serge de Diaguilev - o Homem, o Artista, o Empresário; a importância do seu legado no mundo da dança; o impacto dos BR em Portugal desde a sua apresentação em 1917/18 até aos nosso dias.

12/11/09

finalmente nas bancas: Herta Muller

Prémio Nobel da Literatura 2009


"A Terra das Ameixas Verdes é uma obra sublime, um relato contido e agudo de existências em perigo sob a ditadura de Ceausescu. Romance político? Também. Mas é sobretudo um poderoso libelo contra a desumanidade tortuosa dos sistemas de governo cuja legitimidade deriva do silêncio e do medo. Um romance polifónico e anónimo: da maior parte das personagens conhecemos apenas o primeiro nome; da narradora, nem sequer isso…
Partindo do (aparente) suicídio de Lola, uma jovem - a narradora anónima - encontra apoio num grupo de três rapazes que, com ela, se interrogam e procuram entender tanto a morte de Lola como a sua própria impotência perante um regime que não se abstém de humilhar e silenciar todos aqueles que ousam desafiá-lo. Os quatro irão enfrentar os meandros de um poder corrosivo que visa diminuí-los e isolá-los, aniquilando-lhes a vontade e a capacidade de ter esperança.
Romance de resistência. Resistência ao silêncio asfixiante, porque cúmplice e perpetuador de despotismos, A Terra das Ameixas Verdes é um texto de «palavra difícil» porque as palavras apodrecem verdes na boca, trivializando experiências de terrível indizibilidade. Como dizer o medo da experiência? Como descrever a vontade de morrer? E no entanto, há o imperativo de dizê-lo.
Entre o silêncio impossível e a palavra estrangulada, esta é uma história de feridas jamais fechadas e do despudor impenitente de uma ditadura insidiosa que, obrigando à interiorização, sobreviveu nas marcas inelidíveis que deixou nos corpos e nas almas. "

in wook

11/11/09

Retratos do Algarve - sábado 14, 17h



No dia 14 de Novembro, Sábado, pelas 17h00, no Pátio das Letras:
lançamento do livro que reúne as conferências proferidas no ciclo Viajantes, Escritores e Poetas - Retratos do Algarve, que decorreu entre Março e Julho deste ano.

Organizado pelo Centro de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade do Algarve e pelo Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, esta iniciativa, integrada nas comemorações dos 30anos da Universidade do Algarve, decorreu no Arquivo Municipal de VRSA e no Pátio de Letras, em Faro.

Isabel Baraona - “folhas, páginas e outros desenhos”

6ª f dia 13, 22h - Pátio de Letras

A autora fará uma apresentação da sua obra, onde os seus livros de artista estarão à disposição do público.
Introdução por Vasco Vidigal (Artadentro)

No dia seguinte, sábado, pelas 18h, na Artadentro, Isabel Baraona apresentará um vídeo e desenhos originais, destinados a publicação, integrando a série “os Livros de cores”.
"Isabel Baraona (Cascais, 1974), estudou escultura, pintura, vidro e desenho, no Ar.Co (1993/96), enquanto completava o Bacharelato em Artes Decorativas na ESAD/FRESS (1994/97), em Lisboa. Estudou peinture et recherches tridimensionnelles, na ENSAV / La Cambre, Bruxelas, Bélgica (1997/2002) e fez a Pós-graduação em Pintura na FBAUL (2005/06). A sua obra é exibida publicamente desde 2001, individual e colectivamente, em Portugal e na Bélgica. Actualmente é docente na ESAD.CR, Caldas da Rainha.

Já quando em 2003, Isabel Baraona apresenta a série de pinturas intitulada “tu es mon pays”, a superfície pictórica apresenta-se sobretudo como memória do processo do fazer, como uma paisagem marcada e reveladora da acção do tempo. Mais tarde, é já o “subsolo” íntimo afectado pelos fenómenos exteriores, que motiva a sua obra.

Esta deriva introspectiva passa, então, a ser servida pelo desenho como forma privilegiada de investigação e inventariação de si na sua condição de jovem mulher. Logo aí, o manuseamento da tesoura, da agulha, da linha e a mancha vermelha no tecido, investigam códigos de separação dos sexos, sobretudo os que socialmente determinam o feminino. Depois, assumida plenamente a condição adulta, ainda que não abandonando o recorte e a colagem, é sobre o papel bidimensional que o lápis, o aparo ou o pincel, se impõem como meios de exteriorização de um mundo improvável, fantástico, terno e terrível, em que a maravilha da fábula se confronta com a crueldade e o medo, e em que o sonho é sempre perturbado pela crua realidade. "


texto Artadentro

10/11/09

Tertúlia Café Oceano - 5ª f 12, 18h30

"Extensão da plataforma continental… Quanto mais?"
é o tema de mais um Café Oceano, marcado para quinta-feira, dia 12 de Novembro, às 18h30, no Pátio de Letras.

O convidado é Nuno Lourenço, investigador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da UAlg e professor da Universidade do Algarve destacado para a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC).

in http://barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=37600&tnid=2

"No dia 11 de Maio,Portugal depositou na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a sua proposta de extensão da plataforma continental, ao abrigo do Artigo 76º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). A culminar este processo, Portugal reivindica jurisdição sobre o solo e subsolo marinhos numa área muito significativa do Atlântico Norte.

Na conversa que terá lugar neste Café Oceano, avança o geólogo Nuno Lourenço, “far-se-á uma retrospectiva histórica sobre a construção da CNUDM, abordar-se-ão as diferentes etapas da implantação do projecto de extensão da plataforma no País e as mais-valias que a sua implantação trouxe em termos de conhecimento dos fundos oceânicos nacionais e de incremento da capacidade tecnológica instalada”.

O especialista vai ainda falar sobre as perspectivas futuras do projecto de extensão, “actualmente a aguardar avaliação pela Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas” e, finalmente, será ainda abordado “o potencial económico que o futuro oferece em matéria de exploração dos recursos vivos e não vivos nos grandes fundos oceânicos nacionais”.

O Café Oceano é um espaço de discussão informal sobre assuntos relacionados com o oceano que nasceu de uma ideia original dos alunos de Oceanografia da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente (FCMA) e de Cristina Veiga Pires, também docente naquela faculdade.

Esta tertúlia decorre normalmente uma vez por mês, ao fim do dia, num café/bar de Faro. Para participar não é preciso ser especialista, só é necessária curiosidade e interesse pelas matérias em debate.

O painel de especialistas que faz a apresentação mensal de cada tema, assim como a moderação da discussão (sempre assegurada por Cristina Veiga Pires), incentiva à participação de toda a população.

“Quanto maior a diversidade de perspectivas melhor”, sublinha a mentora do projecto. A primeira edição do Café Oceano teve lugar no dia 19 de Maio de 2005, no Bar do Álvaro, em Gambelas. "

09/11/09

Lídia Jorge, os encontros fortuitos de cinco contos situados

«Em que altura a criança troca a moeda de oiro da inocência pela agulha da perversidade?»
Lídia Jorge, Praça de Londres. Cinco contos situados (2008)
Há tempos colocaram-me a questão de saber por que motivo a última colectânea de contos de Lídia Jorge, Praça de Londres (2008), estava a ter um acolhimento tão pouco expressivo por parte do público. Na altura não soube dar uma resposta satisfatória. Alguns meses passados, continuo na mesma. Revisitei atentamente os Cinco Contos Situados e voltei a sentir o mesmo prazer que o primeiro encontro me havia proporcionado. Trata-se de uma obra à altura das restantes que a autora nos tem vindo a oferecer regularmente ao longo de três décadas.

A dificuldade de identificar um fio condutor unificador de textos autónomos encontra-se aqui um pouco mitigada, por todos eles se centrarem em espaços urbanos concretos. O subtítulo eleito já nos acautelava para essa particularidade. Depois, a análise continuada da série é facilitada pelo magnetismo de escrita emprestado às instâncias narrativas, pela fluidez de discurso concedido às personagens, pela abordagem de tópicos postos à disposição do leitor. Remetem-nos, afinal, para um universo romanesco ímpar que só os grandes vultos da literatura logram atingir.

Na impossibilidade de tocar em todos os potenciais focos de interesse dos relatos, centrei-me num deles, nessa velha capacidade humana de fabricar histórias e de as transmitir a todos os interessados, de entrar nesse jogo de faz-de-conta, nesse debate partilhado de ideias. A verosimilhança dos factos imaginados nunca foi um obstáculo. Lídia Jorge não foge a essa regra de ouro da criatividade artística. Geralmente fá-lo através da voz experiente das mulheres. É o que se passa na totalidade dos fragmentos fingidos de vida em apreço. Como expositora de factos, como ouvinte de casos, como protagonista de eventos.

Em «Praça de Londres», seguimos a corrente de pensamento de uma transeunte anónima que se deixa surpreender pelas manifestações de afecto de um homem grisalho para com uma criança, talvez filha, com quem se cruza nesse recanto da cidade do Tejo. O insólito quotidiano documentado na «Rue du Rhône» está ligado à compra de uma mala de mão de senhora, em pele de crocodilo genuíno do Mississipi, episódio vivenciado por duas clientes portuguesas e uma vendedora suíça, numa loja dessa movimentada artéria de Genève. O palco dos sucessos volta à capital do nosso país, quando a protagonista de «Branca de Neve», uma bancária de sucesso, se sente perseguida por um bando de sete crianças na Avenida dos Estados Unidos. A «Viagem para dois» coloca-nos na presença de um criminalista e uma novelista, em trânsito ferroviário entre Milão e Veneza, em que o primeiro põe a segunda ao corrente de um estranho episódio que testemunhara em Lisboa e lhe solicita que, enquanto escritora de histórias de cordel, lhe dê uma forma literária conveniente. O livro encerra com «Perfume», o único inédito da série, composto como uma «Homenagem tardia a Yalmaz Güney» e desenvolvido em torno da fragrância emanada de uma história de amor muito particular, a dos pais do narrador do conto, repartida pelas principais cidades da Europa.

As sínteses estão feitas. Os pormenores ficam de reserva para os curiosos. Que a surpresa da descoberta persista para deleite de todos aqueles que, por um qualquer descuido, ainda não mergulharam na aventura da leitura, no mundo mágico dos heróis da imaginação. Quem sabe se no final dessa viagem não vislumbram uma resposta satisfatória para a questão inicial.

Na réplica literária de Lídia Jorge à história de amor contada pelo cineasta turco referido pode ler-se: «Diz uma velha canção que no fundo de uma garrafa se encontra a vida de um homem, e por certo que assim acontece desde que se inventou a fermentação do malte». A chave do êxito das obras de arte em geral e de um livro em particular só pode ser encontrada se tivermos o ousadia de a abraçar com todos os sentidos. Lídia Jorge pôs-nos a «garrafa» à nossa disposição, agora só temos de abri-la e ouvir todas as canções que ela encerra. De facto, não se trata de um fardo muito pesado para carregar.

05/11/09

ler e respirar 13


(Este texto é parte de um outro mais longo publicado no blog “incursões”. Não é meu hábito contrabandear textos (mesmo os meus) mas a Liliana insistiu em que o reeditasse aqui. As mulheres mandam (até ganham o Nobel!) pelo que não tive outra alternativa senão servir vinho velho em odre novo.)

Há Nobel e Nobel, basta escolher

O Nobel da literatura em si pouco me diz. Quantos premiados não estão, desde há muito, sepultados sob uma espessa capa de esquecimento e silêncio?

Claro que se pode sempre dizer que o esquecimento afecta também alguns dos grandes, Gide, por exemplo, de que em Portugal não deve haver actualmente uma única edição recente. Todavia, poder-se-ia retorquir que isso, esse ocasional desinteresse, tem mais a ver com a incultura de alguns, com a ganância dos editores que diariamente nos despejam toneladas de livros que só se vendem graças á publicidade, às capas berrantes, aos pagamentos (que os há) a livreiros para exibirem vantajosamente os seus subprodutos nas estantes mais à vista dos incautos.

Ora, há uns largos anos, mais propriamente em Maio de 93, numa surtida à livraria, caiu-me o olho num livrinho fino, modesto, sem capa apelativa mas com um título definitivamente extravagante: “O homem é um grande faisão sobre a terra”. Eu não sabia que aquilo era um provérbio da minoria alemã da Roménia e que apenas significava que, neste mundo, o homem se move tão deselegantemente quanto o voo do faisão. Isso aprendi com o livrinho, em tardia leitura, que –como é hábito – fiz muito tempo depois. Os compradores compulsivos arrastam consigo um deficit de leitura tremendo em relação ás pilhas de livros que vão acumulando. No caso em apreço foi um erro. Trata-se de um romance extremamente bem feito, melhor contado, em capítulos breves, densos, numa linguagem poética e, ao mesmo tempo, devastadoramente expressiva, quase coloquial.

Herta Müller, de que só li esta obra, ganhou este ano, para geral surpresa o Nobel. Os “derrotados” (se de derrotados se pode falar) terão sido, entre outros, Roth, Llosa ou Amos Oz, autores consagradíssimos, com obra extensa e notável. Pessoalmente juntar-lhes-ia Cláudio Magris um dos mais brilhantes exemplos da misteriosa literatura triestina, cidade que muito me seduziu e que atraiu intelectuais como Joyce ou Svevo (dois não premiados...).

Vale a pena ler esta escassa centena de páginas que uma editora corajosa (cotovia) publicou em 93 (há dezasseis anos!) e que não terá despertado grandes entusiasmos por cá. Não sei se ainda por aí circulam alguns exemplares para venda. E, no caso de circularem, se ainda custam oito euros (ou, como vejo no meu exemplar, 1680$00, que não era propriamente um preço de amigo para tão pouco livro.) mas, se permitem um conselho, vão por ele, é boa leitura, a letra é grande, a capa é de uma simplicidade desarmante e... (ao contrario de estrepitosas e recentes novidades) aquilo fala mesmo de nós, da nossa humana e mortal condição, e do que outros fazem de nós (ou tentam fazer, mas isso é outra história).

Novidade no Pátio de Letras

Clique nos títulos dos livros para ler as sinopses e excertos

1 Km de cada vez, Gonçalo Cadilhe, Oficina do Livro

Faça-se Justiça!, Francisco Teixeira da Mota, Oficina do Livro


Auto-retrato do Escritor enquanto Corredor de Fundo, Haruki Murakami, Casa das Letras

Fábula, William Faulkner, Casa das Letras




Revolução 1989, Victor Sebestyen, Ed. Presença


História da Tecnologia, Luisa dolza, Teorema


Money, Martin Amis, Teorema
O Principezinho - O Grande Livro Pop Up, Presença. Veja AQUI o video de apresentação

03/11/09

Novidades acabadas de chegar ao Pátio de Letras

"Os Informadores", de Bret Easton Ellis, Ed. Teorema

Brutalmente divertido, pungente e inflexível, este livro revela-nos, sem máscaras, uma cidade estranha e um tempo que é o nosso. Uma intensa narrativa impressionista agora em filme.

Do autor de "Psicopata Americano" e "Menos que Zero"


"Invisível", de Paul Auster, Ed. Asa

Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.

Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbutido de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade. Uma obra inesquecível pela mão de um dos nomes cimeiros da literatura dos nossos dias.


"Conversa n'A Catedral", de Mario Vargas Llosa, Ed. Dom Quixote

Sentados a uma mesa da taberna A Catedral, o jornalista Santiago Zavala conversa com o seu amigo Ambrosio. Estamos em Lima, na época ditatorial do general Manuel A. Odría (1948-1956), e dessa conversa acompanhada de cerveja emerge um Peru cruel, corrupto, desesperançado, matéria-prima ideal, portanto, para um romance que só um grande jornalista e escritor como Vargas Llosa poderia ter produzido.

Uma história esplêndida que reúne muitos dos ingredientes que fizeram a fama do autor peruano – as críticas ácidas, a irreverência, a rebeldia e o humor sarcástico. Conversa n'A Catedral é a crónica de uma ditadura e da resistência possível graças à palavra. Uma aguda reflexão sobre a identidade latino-americana e sobre a perda da liberdade.

Um romance que, mais do que um marco na carreira literária do autor, é um ponto de referência inevitável na história da literatura universal.


"Portugal de Hoje à Mesa", de João Paulo Martins e Vítor Sobral, Ed. Livros D'Hoje

24 vinhos acompanham as melhores receitas portuguesas contemporâneas, confeccionadas por 12 chefes


"A Horta Biológica", de Vincent Gerbe, Ed. Europa-América


"Agricultura Biológica", de Francesco Indrio, Ed. Europa-América