ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

30/12/09

O Livro da Casa


Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas (prémio instituído pelo Centro Cultural Regional de Santarém, com o intuito de estimular a criação poética)


sobre o autor, Fernado Cabrita: clicar neste link


escrito por José António Barreiros (aqui):


Li-o e de repente surgiu-me o nome: Ezra Pound. Hesitei, mas a musicalidade era essa, familiar, guerreira mesmo quando e pacífica, idêntica a virulência torrencial dos versos, o grito e o clamor em estrofes inesperadas. Encontrei-o então na página 82, o «Poema Triste para Ezra Pound», o poeta maior enjaulado como ficou na memória punitiva, conspurcado pela sua adesão fascista, pecado político a obnubilar o génio poético, louco animal rude «ó poeta velho, ó lobo triste/soldade de penas vãs e vagas». Reconheci-os ambos o autor e o seu estro.

Falo do livro de poemas de Fernando Cabrita. Um Canto em múltiplos cantares.

Sabia-o Advogado, olhanense, escritor, mas não o sabia pintor e é dele o quadro que engradece a capa. Sabia-o poeta mas hoje senti-o poeta. A um artista nenhuma Arte é indiferente. Escreve-se na tela escorrem cores desta escrita.

São versos entre si diferentes mas em torno de uma mesma casa, do homem que «percebeu então que construíra a casa - e que a casa, entretanto, o construira a ele». São versos de uma «casa sem nome», versos marítimos de grumete velho devolvido ao mar inicial «velho camarada». Versos de contemplação amorosa, íntima, casta no impudor de ousar amar.

Há nesta poesia um anseio de lar, poemas de um exército derrotado pela longa viagem imperial, saudades de marinheiros porque «breve foi a casa que o temporal varreu», a febre ultramarina dos arqueiros «aguardando uma voz que os conduza a casa. Sempre a casa, a primeira, a segunda, a última casa.

São poemas a Sul, como «o voo livre das âncoras sepultadas nos abismos», poemas de uma janela para a intemporalidade de onde se pressente o mar «pelo cheiro a nevoeiro e as rochas molhadas», e «as recordações ténues de sons e livros e casas e beijos e coisas doces».

Não sou crítico literário porque escrevo e estou contente com o que escrevo e há sempre uma palavra amável que diga de quem se atreve a escrever, a quem arrisca nome, cara, expõe aos públicos as entranhas do sentimentos, o coração da sensibilidade. Sem inveja, sem rancor, sem maldade, com amizade.

Tinha tentado ler há dias o livro num dia de distração. Não se faz um tal crime a uma obra como esta. Hoje o dia deu-me uma nesga de oportunidade. A estupidez organizada de que faço vida impediu-me de ir ao lançamento.

De todos os versos permitam que escolha um, não o de Macias «Macias, o sem lar/mas cujo tecto era feito de todos os tectos/e o colchão era toda a planície/ e o alimento era todo o manjar e todos os manjares/e o amor era o amor que todo o mundo tivesse para dar», que é um momento de beleza dorida. Não o de Macias, apesar de me apetecer lê-lo em cada palavra e soletrar-lhe cada letra. Mas escolho a fala derradeira de «Enrique de Borgonha, no leito de morte em Astorga» quando «fala ao pequeno Afonso», seu filho: «Agora que os corcéis da morte cavalgam já/no meu encalço, e sinto os seus cascos/trotando em minha alma» ele, Enrique, «romeiro de San Jacob e lidador de guerras e conquistas» está em paz: «Nesta hora, amigos e inimigos têm já em mim//o mesmo rosto/e não caem neles ódios ou rancores, amizades ou estimas/tão só a rude melancolia de saber que já na morte me esperam/e fraternalmente nela nos reconheceremos/como no regaço de uma mãe antiga».

Chora-se ao ler isto. «Doma as perdas e os fracassos, e bem assim os triunfos/como um cavalo que te leve para onde tu queres ir/e não para onde ele queira./Sê dono sempre dos teus mesmos passos/e do teu próprio caminho».

Obrigado ao dia que me permitiu ler, obrigado a quem escreveu. Parabéns à Gente Singular, editores.

19/12/09

alguns dos livros sobre MÚSICA no Pátio de Letras

O RESTO É RUÍDO - À ESCUTA DO SÉC. XX, de Alex Rod (Casa das Letras) - PVP 27 €

Por toda a parte se faz sentir a influência da música moderna. Sons vanguardistas inundam as pistas sonoras dos filmes de suspense de Hollywood. A música minimalista produziu um enorme efeito sobre o rock e o pop, desde os Velvet Underground até ao compositor de música electrónica Aphex Twin. Alex Ross, o brilhante crítico musical do The New Yorker, faz jorrar uma brilhante luz sobre este mundo e mostra como ele impregnou todos os recantos da vida do século XX.
Nesta abrangente e documentada narrativa, Ross conduz-nos desde a Viena de antes da Primeira Guerra Mundial, até Paris dos anos vinte; desde a Alemanha de Hitler e da Rússia de Estaline, até à downtown de Nova Iorque dos anos sessenta e setenta. Acompanhamos a ascensão da cultura de massas e da política de massas, a ocorrência das novas e espectaculares tecnologias, das guerras quentes e frias, de experiências, de revoluções, de tumultos e de amizades feitas e desfeitas.
O resultado final não é tanto uma história da música do século XX, mas sim uma história do século XX através da sua música.
PORQUE É A MÚSICA CLÁSSICA AINDA IMPORTANTE ?, de Lawrence Kramer (Bizâncio) PVP 15 €
É o que se pergunta Lawrence Kramer neste belo e penetrante livro, primorosamente escrito. Em sete capítulos muitíssimo originais, Kramer afirma a importância da música clássica revelando quais são os seus valores. Esta obra liberta-nos também de velhos preconceitos. Ao contrário de outros autores, cuja defesa da música clássica assenta frequentemente em argumentos acerca da influência nociva da cultura popular, Kramer admite que o universo da música clássica precisa de uma filosofia mais aberta e mais actual. A obra cativa ao explicar a relação complexa da música com motivações individuais e necessidades sociais mais vastas. Numa prosa original, estimulante e directa, explora a natureza da subjectividade, a vitória sobre o tempo e a mortalidade, a harmonização da humanidade e da tecnologia, a aprendizagem da atenção e a libertação da energia humana que a música clássica proporciona.

Outros da Bizâncio:
ESTÁ TUDO LIGADO - O PODER DA MÚSICA, de Daniel Barenboim - PVP 15 €

HAYDN - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de DAVID VICKERS – PVP 16,50
MENDELSSOHN - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de NEIL WENBORN - PVP 16,50 €
PUCCINI - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) – de JULIAN HAYLOCK - PVP 16,50 €
TCHAIKOVSKI - VIDA E OBRA (inclui 2 CD) - de JEREMY SIEPMANN - PVP 16,50 €
WAGNER - VIDA E OBRA, de STEPHEN JOHNSON - PVP 16,50 €
HISTÓRIA CONCISA DA MÚSICA OCIDENTAL, de PAUL GRIFFITHS – PVP 18 €

LIÇÕES DE MÚSICA, de STEPHANIE CREASE – 15 €
Este livro é o melhor guia prático para ajudar as crianças a aprenderem a tocar um instrumento musical. Agora que os cortes orçamentais e outros factores desferem um rude golpe no ensino da música, os pais precisam de dispor das ferramentas necessárias para a educação musical dos seus filhos. A presente obra está repleta de conselhos valiosos de professores de música, pais e das próprias crianças. Lições de Música ajudá-lo-á a descobrir qual o método de ensino certo para o seu filho, a escolher um instrumento e a incentivar o seu filho na prática do instrumento escolhido.

UMA PAIXÃO HUMANA: O SEU CÉREBRO E A MÚSICA, de DANIEL J.LEVITIN - PVP 19,90 €

Este é o primeiro livro que conduz a um entendimento científico abrangente sobre o modo como experimentamos a música e sobre o papel ímpar que desempenha nas nossas vidas. Esta investigação sem precedentes do papel da música na evolução humana e no nosso quotidiano abarca a Psicologia, a Neurociência e exemplos musicais de Mozart a Eminem, passando por Bach, Count Basie, Creedence Clearwater Revival e tantos outros.
Uma Paixão Humana é um encontro entre os dois mundos magníficos da Arte e da Ciência e está destinado a ser um marco na história da cultura.

de editoras várias:
HISTÓRIA DA MÚSICA PORTUGUESA, de JOÃO DE FREITAS BRANCO (Europa-América) – PVP 30,40 €
BREVE DICIONÁRIO DE MÚSICA, de RICARDO ALLORTO (Ed. 70) – PVP 13,10 €
HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL, de DONALD J. GROUT, CLAUDE V. PALISCA (Gradiva) – capa dura PVP 37,50 €
ATLAS DE MÚSICA – vols I e II, de ULRICH MICHELS (Gradiva) – PVP 29,50 € (I vol) e 39 € (II vol)
MÚSICA CLÁSSICA: OS GRANDES COMPOSITORES, de JOHN STANLEY (Estampa) – PVP 35,10 €
ABC DA MÚSICA, de MARTINS FONTES (LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA) – PVP 29,40 €
QUE É A MÚSICA, de CARL DAHLHAUS, HANS EGGEBRECHT (Texto e Grafia) – PVP 16 €
ILLUSTRATED ENCYCLOPEDIA OF MUSICAL INSTRUMENTS - Ed. KÖNEMANN VERLAGSGESELLSCHAFT MBH (álbum) – PVP 24,15 €
AMADEUS- A VIDA DE MOZART, DE CLAUDIO CASINI (Europa-América)

MÚSICAS DA MINHA VIDA, de ANTÓNIO VICTORINO DE ALMEIDA (Dom Quixote) – PVP 14,40 €
TODA A MÚSICA QUE EU CONHECO VOL. I e II - ANTÓNIO VICTORINO DE ALMEIDA (Oficina do Livro) – PVP 27 € (I vol) e 25 € (II vol)

MUSICÁLIA, de Fernando Lopes Graça – PVP 12,60 €

ARABESCO - DA MÚSICA ÁRABE E DA MÚSICA PORTUGUESA, de Adalberto Alves (Assírio & Alvim) – PVP 8,50 €
SOBRE MÚSICA: ENSAIOS, TEXTOS E ENTREVISTAS, de António Pinho Vargas (Afrontamento) – álbum – PVP 20 €

BIOGRAFIAS /livrops sobre Tom Waits, Suzanne Vega, Velvet Underground, Laurie Anderson, David Byrn, Jan Morrinson, Ian Curtis, Lou Reed, John Lennon, Sting, Madonna, Michal Jackson ... e muitos mais

CONTIGO TORNO-ME REAL, de Pedro Rui Silva (Ed. Afrontamento) - PVP 14 €Este livro não pretende mistificar nem muito menos mistificar Jim Morrison. Toda a essência reside num esforço partilhado de homenagem e, muitas vezes, de aproximação à sensibilidade do homem, do poeta e à ousadia da estrela de rock, através de um projecto de escritas partilhadas que incidem em memórias, impressões, sentimentos e experiências únicas vividas por cada participante na abordagem a Jim Morrison e, por vezes, aos Doors.
Neste livro está igualmente incluída a participação de alguns dos mais reputados músicos portugueses, um magnífico projecto de mural, que nunca foi publicado em nenhuma parte do mundo, mas autorizada para a presente edição, e algumas fotografias inéditas. Os próprios biógrafos dos Doors participam neste livro, assim como a sua fotógrafa e inúmeros amigos e fãs de Jim Morrison.

Infantis:

(Oficina do Livro) - PVP 13 €

O MEU PRIMEIRO CHOPIN, de Rosa Mesquita, Carlos Martins Pereira (Dom Quixote) – inclui CD - PVP 14,40 €
O MEU PRIMEIRO MOZART, de António Cartaxo, Pedro Machado, Rosa Salvado Mesquita (Dom Quixote) - inclui CD - PVP 14,40 €
SEMENTES DE MUSICA PARA BEBÉS E CRIANÇAS, de Ana Maria Ferrão, Paulo Ferreira (Ed. Caminho)inclui CD – PVP 14,90 €
CANTA O GALO GORDO, Poemas e Canções para Todo o Ano, de Gonçalo Pratas, Inês Pupo (Ed. Caminho) inclui CD – PVP 12,90 €

18/12/09

José Saramago e as desconcertantes errâncias de caim pelo mundo

«A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.»
José Saramago, Caim (2009)
O Caim (2009) de José Saramago não é uma obra maior. Os tripulantes da «barcarola voadora» e da «jangada de pedra», os «levantados do chão» e assediados do «cerco de lisboa», os sumidos no «ano da morte» aí estão a impedi-lo. Estará talvez ao nível de um «salomão», o tal elefante quinhentista em trânsito terrestre entre Lisboa e Viena de Áustria. Também não é, decididamente, uma obra menor. O estilo inconfundível do autor nunca o permitiria. Está lá todo. Cada vez mais pujante. Só que nos conta histórias muito antigas, sabidas e ressabidas, desgastadas pelo uso e abuso que têm sido alvo no decorrer dos dois / três últimos milénios.

Polémicas à parte, o romance mais não faz do que revisitar o Livro dos Livros e tentar reduzir ao absurdo a lógica ancestral ali coligida à luz dos conhecimentos actualmente postos à nossa disposição. A ideia de um deus cruel e vingativo, engendrado pelo imaginário colectivo dos inventores do monoteísmo, é dissecada pela instância narrativa, como se tivesse sido criada pelas mentes sofisticadas dos nossos dias. O resultado afigura-se-nos um pouco frustrante.
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A gesta ficcionada de Caim quase se confunde com as fortunas e adversidades dos andarilhos marginais que a inventiva castelhana dos séculos dourados pôs à disposição de todos nós. Oriundo de uma linhagem caída na desgraça (Adão e Eva), este protótipo bíblico de pícaro malfadado desenvolve um processo de ciúmes pelo irmão mais novo (Abel) e mata-o. Marcado na testa com o estigma do «senhor», é obrigado a encetar uma ininterrupta peregrinação pelo mundo, o que lhe proporcionará uma longa e penosa aprendizagem das tragédias da vida, ou, se preferirmos, das «intermitências da morte». Transformado por força de circunstâncias mal apuradas num viajante involuntário do tempo, de deslocar consigo o presente da sua existência, «ora para a frente ora para trás», o ilustre proscrito é levado a testemunhar alguns dos episódios mais sangrentos do Génesis e do Êxodo, que nunca se coíbe de comentar e criticar.

Protegido uma ou outra vez com oportunos nomes de empréstimo (Abel e Noah) e entregue a providenciais actividades laborais de subsistência (agricultor, pisador de barro, porteiro, ajudante de alveitar, rastreador, cuidador de burros), dedica-se à ingrata tarefa de recolher a «prova irrefutável da profunda maldade do senhor». Adão e Eva são expulsos do «jardim do éden» só por terem querido saber distinguir o «bem» do «mal», votando todos os descendentes ao anátema do «pecado original». Caim tira a vida a Abel, mas em contrapartida dá um filho a Noah, engravidando-lhe a mulher Lilith. Consegue salvar a vida de Isaac, impedindo Abraão de o sacrificar ao altíssimo, mas não obtém o perdão do «senhor, também conhecido como deus».

A imprudência divina de criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança terá sido o maior «erro» da sua eterna presença. Depois, intentou emendar essa distracção, massacrando a torto e a direito «culpados» e «inocentes», para grande espanto de Caim. Em desespero de causa, tenta afogar toda a população terrestre, incumbindo Noé de fundar uma nova era na história da humanidade e dos restantes seres viventes. Caim não permitirá que o «erro» se volte a repetir. Enfrenta o «senhor» e derrota-o em todas as frentes, conseguindo o estatuto de herói que os anti-heróis pícaros clássicos nunca lograram obter. O exemplo do amo celestial tinha-lhe servido de suprema e eficientíssima lição. É a morte que dá verdadeiramente sentido à vida.

José Saramago terá cometido a ingenuidade de ler a Bíblia em sentido próprio, de a ter reduzido a um mero rosário de relatos fabulosos que o mais elementar bom senso remete para o universo dos sentidos figurados. A própria Igreja aconselha esta fuga em frente. Mas, ao fazê-lo, a versão do romancista acaba por ser tão válida como qualquer outra. A qualidade literária tem muito pouco a ver com o sagrado. A efabulação termina com a frase lapidar: «A história acabou, não haverá nada mais que contar». Conhecendo o autor como conhecemos, duvidamos que essa decisão seja de fiar. Bem vistas as coisas, os leitores só têm a lucrar com uma tal eventualidade.

Sábado19, 22h - ESFINGE-O MITO

11/12/09

ler e respirar 14

Luís Pacheco ou Rui Ramos?

Os dois!

Na Biblioteca Nacional inaugurou-se uma exposição (uma bela exposição!) sobre Luís Pacheco. É seu comissário Luís Gomes, um homem das arábias, um livreiro alfarrabista de mão cheia e um coleccionador. E um homem de cultura. Pacheco sai engrandecido desta excelente exposição que, por ironia, se realiza num dos locais que ele provavelmente zurziria mesmo que, como se sabe, Pacheco nem sempre encontrava o alvo justo. Todavia, ninguém pode negar que se tratou de um escritor interessantíssimo, de um editor fora do vulgar, de um agitador cultural ímpar, sobretudo se nos lembrarmos quando, onde e como começou.

Paralelamente, sempre sob os cuidados de Luís Gomes, a D. Quixote lançou em co-edição com a Biblioteca Nacional um sumptuoso catálogo onde está tudo ou quase. Trezentas e oitenta páginas ilustradíssimas, um regalo! Luís Gomes não se poupou a esforços, reuniu uma impressionante quantidade de livros, manuscritos, postais sei lá o quê.

Leitores, este catálogo é uma prenda de Natal fora de série e já está à venda. Apressem-se e aproveitem. Algum parente, com falta de imaginação pode ser estimulado a abrir os cordões à bolsa, que diabo.

Outro parente tão generoso como o primeiro pode aparecer com a “História de Portugal” debaixo do braço. É um tijolo, convenhamos, mas Rui Ramos, um dos autores e seu coordenador conseguiu o impossível: fornecer um handbook da história pátria rigoroso, inteligente, bem informado, sucinto quanto baste, enfim, um digno sucessor da velha experiência de Oliveira Marques que tanto marcou a minha geração. E lê-se bem, desenfadadamente, mesmo se o peso do livrinho seja apreciável. Sempre são cerca de mil páginas!

Com Rui Ramos são co-autores Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro. Malta nova, com genica, ainda bem. A edição é da Esfera dos Livros.

Bom Natal! Boas leituras!

09/12/09

José António Barreiros: "não se brinca com facas"

A estreia de José António Barreiros no Romance

Disponível dentro de dias no Pátio de Letras
(apresentação no Pátio em 2010)


Adenda a 12 Dez:
já à venda no Pátio de Letras; PVP 12 €

05/12/09

"Devorem Poesia!"

artigo de Ana Oliveira, no Jornal do Algarve, 3/12/09

"Foi no dia 28 de Novembro que o Pátio das Letras teve a honra de lançar a nível nacional o último livro de Teresa Rita de Fernando Lopes. Desta vez foi mais um livro de poemas a que a autora intitulou O Sul dos Meus Sonhos.
A representar a editora Gente Singular esteve Rosa Mendes, que se congratulou pelos dois anos de vida desta recente editora, regional mas não regionalista, como fez menção de realçar.
(...) O facto de Teresa Rita Lopes ter escolhido a editora Gente Singular para lançar o seu livro de poemas foi, segundo Rosa Mendes, motivo acrescido de orgulho e satisfação, não só por Teresa Rita Lopes ser o vulto reconhecido na cultura portuguesa, mas também por ser algarvia, mais concretamente de Faro.

(...) Rui Moura musicou alguns poemas da autora, aguçando o apetite do público para a leitura daquelas palavras com sabor a Sul, como o poema que diz: "Ruas de Alcoutim/Calçadas com pedras da Ribeira".

A José Louro, amigo de longa data desta autora, seu colega de curso, coube a tarefa de apresentar o livro O Sul dos Meus Dias. Um curso, que segundo o professor, gerou uma forte contribuição para a cultura, sobretudo por parte de algarvios. Num clima informal, de amigos que se estimam e admiram há largos anos, José Louro ou-sou falar da escrita de Teresa Rita Lopes. Começando pelos olhos e pelo olhar especial que encontra na mulher algarvia, José Louro foi discorrendo sobre a escrita de Teresa Rita, detendo-se especialmente na sua escrita para teatro, mais concretamente no texto que encenou para a Companhia de Teatro do Algarve, ACTA, intitulado As Tranquilas Aventuras do Diálogo, interpretado magistralmente por Luis Vicente, Jorge Soares e Pedro Ramos. Falou da poesia de Pessoa em diálogo com Álvaro de Campos e com Jorge Luis Borges, falou da nudez dos corpos que se podem dissolver em poesia e da aventura que foi pôr em cena um texto de Teresa Rita Lopes.

Quanto ao Sul dos Meus Sonhos, José Louro preparou uma apresentação em articulação com o actor Rui Cabrita, que lia os poemas que José Louro ia nomeando. Um poema que mereceu especial destaque para José Louro foi aquele em que Teresa Rita confessou "Hoje fiz gazeta e fiquei em casa". Parafraseando Mário Césariny e o seu magnífico poema "Há uma hora, há uma hora certa/que um milhão de pessoas está a sair para a rua / Há uma hora desde as sete e meia horas da manhã/que um milhão de pessoas está a sair para a rua", José Louro encontrou um ponto de ligação com o verso "hoje falto ao escritório, pontualmente, todas as manhãs" e elogiou esta coragem de fazer gazeta e conversar com as plantas, nomeando-as e olhando o rio Tejo do cimo do seu "jardim suspenso" em Almada.

Para José Louro, o livro de Teresa Rita Lopes divide-se entre o berço de Faro, o mar de Cacela, os montes de Alcoutim, os jardins suspensos sobre o Tejo da sua casa em Almada. Este livro é o testemunho do sentimento de pertença a este Algarve que Teresa Rita nunca renegou. O poema "sou daqui" é bem o exemplo desse orgulho de mulher algarvia que, apesar de cosmopolita, da sua vivência de 13 anos de professora universitária em Paris, da cátedra na Universidade Nova de Lisboa, nunca esqueceu. Não esquece as amendoeiras, as amoreiras, oferecendo-se generosamente a quem queira provar das suas amoras.
Da velha amendoeira descobre que "diz que sim à vida/ e fica de repente menina e noiva." Para Teresa Rita Lopes, "os meus sonhos situam-se sempre a Sul. Faro, Cacela ou Alcoutim. Cenários da minha infância de filha única a brincar sozinha. A esses sítios regresso em sonho ritualmente. Talvez para me encontrar com quem era e pressentir quem sou."

Foi uma honra para Faro que o quarto livro de poemas desta autora premiada com o prémio de Poesia da Câmara Municipal de Lisboa, o grande prémio de ensaio Unicer, o prémio de ensaio Pen Club e o prémio Eça de Queiroz de Poesia tenha sido apresentado na sua cidade natal, num dos locais que já é referência para o património cultural da cidade: o Pátio das Letras."


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04/12/09

Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, o livro do meio ou das ligações perigosas

«Ensaiemos pois, em silêncio, o percurso do nosso dueto, a ouvir o Scarlati.»
Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, O Livro do Meio (2006)
Sempre ouvi dizer que Lisboa é uma grande aldeia, onde todos se conhecem ou fingem ignorar, onde uns e outros cultivam, sem excepção, os seus amores/ódios de estimação. Mais os segundos do que os primeiros, como convém. Os profissionais da escrita não fogem a esta regra de ouro do escárnio e maldizer nacionais. A diferença é que o fazem com uma inequívoca e inexcedível mestria. E nós, pobres mortais, sedentos de palavras bonitas (mesmo quando dizem coisas feias), até aplaudimos. Há séculos que o fazemos impunemente.

Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa recorreram a esse velho hábito que a tradição canonizou. Fizeram uma incursão combinada à meninice, cartearam-se durante alguns meses e alinharam um «romance epistolar», a que chamaram O Livro do Meio (2006). Aquele que se situa no cruzamento de duas escritas estripadas de todo o tipo de preconceito, concebidas ao jeito de uma «marquise de Merteuil» e de um «vicomte de Valmont», personagens novelescas criadas por Pierre de Laclos nas Liaisons dangereuses (1782); ou à imagem e semelhança da experiência que a autora tivera na composição das Novas Cartas Portuguesas (1972), integrada no grupo das «Três Marias»; ou do autor na tradução da Correspondência a três (2006), que Rilke, Pasternak e Tsvétaïeva terão partilhado no verão de 1926. Títulos frequentemente citados e glosados no decorrer dos diálogos travados à distância e em fragmentos repartidos.

As fontes de inspiração seguidas pelo «dueto» terá servido de perfeito álibi explicativo de muitas das liberdades tomadas nessas memórias feitas de realidades pretéritas, actualizadas ao sabor do momento, de cumplicidades pressentidas, mas nunca reveladas na sua totalidade. O leitor é confrontado com um discurso entremeado de claros subentendidos e de aparentes evidências que terá de enfrentar do lado de «fora do Livro», com toda a perícia que consiga agilizar para desenlear os fios da meada. A tarefa é árdua, mas os resultados deveras compensatórios. É que a fruição plena do prazer da leitura não tem preço.

As referências às obras de um e de outro são constantes. As apreciações que suscitaram aos críticos encartados do trabalho alheio ou de fazedores de ideias feitas são o pretexto para os mais inspirados jogos de disfarces encenados nas cartas. Os remoques satíricos dirigidos a todos aqueles que alguma vez se lhes tenham atravessado no caminho são impiedosos. É que «um puritano da boca é uma criatura perigosa». Os nomes são substituídos por siglas anódinas e epítetos sonantes, mas a força das descrições fornece-nos a chave das charadas sem grande esforço de descodificação. Que o digam a «Académica», a «Mnemónica» ou a «Embaixatriz».

Resumir essa longa conversa travada entre dois amigos de longa data, esse «coloquialismo intimista», seria uma traição que nenhum deles mereceria. A menos que nos limitemos a dizer que se trata de um livro que fala de arte e artistas, de música e compositores, de cinema e cineastas, de livros e autores, que fala, inevitavelmente, da vida e morte das paixões. É um livro que pretende promover uma «perigosa colaboração de classes», aquelas que cada um dos signatários das missivas representou nas origens. Ela a emergir de uma média burguesia urbana do Bairro Azul e Janelas Verdes, a saltitar entre a «Casa dos Gritos» e o «Palácio das Madres» ou das «Escravas do Sagrado Coração de Jesus»; ele a fugir de um proletariado rural remediado de uma aldeia cinzenta do litoral oeste, a saltitar entre a «Casa dos Choros» e a «Escola do Paraíso» ou «externato pobre para meninos ricos».

No final do percurso retrospectivo às «Casas da Infância», o cansaço dos caminhantes é notório. A escrita ressente-se da penosa caminhada. Armando Silva Carvalho despede-se entoando o «canto do viandante e das sombras». Maria Velho da Costa convocando o «sangue, coalhado e vivo». Pela parte que me toca de mero «leitor», de «anjo ou demónio desconhecido», com muita saudade de os ter visto acenar o lenço pela última vez, de os ter visto partir e de não continuar a desfrutar do prazer da sua presença. Arrebatadora, inebriante, sublime. Como sempre.

03/12/09

40 anos do MDM


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Algumas novidades

Algumas de entre as muitas novidades no Pátio. Clique nos títulos dos livros para ler as sinopses.

História de Portugal, Rui Ramos (coordenador), Esfera dos Livros


Na Cova dos Leões, Tomás da Fonseca, Antígona

Evocação de Sophia, Alberto Vaz da Silva, Assírio e Alvim


Chico Buarque - Histórias de Canções, Wagner Homem, Dom Quixote



O Sítio das Coisas Selvagens, Dave Eggers, Quetzal



Tubo de Ensaio, Parte II, Bruno Nogueira e João Quadros, Livros D'Hoje

O Meu Primeiro Chopin (com CD), Dom Quixote

O Meu Primeiro Torga, Dom Quixote