ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

25/11/09

O ENVELHECIMENTO E A SEXUALIDADE


Em Novembro de 2009, a Associação para o Planeamento da Família comemora a Semana da Saúde Sexual que dedicou à vivência da sexualidade nos mais velhos.O crescente envelhecimento populacional torna evidente o esforço social de melhorar a qualidade de vida nos idosos. No que respeita à expressão da sexualidade, já por si um assunto tabu, torna-se ainda mais tabu quando relacionada ao idoso, sendo criados mitos que condicionam uma vivência saudável da sexualidade.
Esta conversa sobre a sexualidade no envelhecimento terá lugar no Patio@Bar, na 5ª f dia 26 às 18h e será moderada pelo enfermeiro Bruno Rocha e conta com a presença dos seguintes participantes:

António Sousa (sociólogo, presidente da APF)

João Barreiros (enfermeiro, direcção da APF)

Miguel Rodrigues (médico, serviço de Urologia)

Luisa Gomes (psicóloga, Associação Âncora)

Grupo de Jovens da APF Algarve (uma equipa empenhada em desenvolver um trabalho de promoção para a saúde)

23/11/09

Amin Maalouf, os jardins de luz do maniqueísmo


«Sois traître à l’Empire, s’il le faut, et rebelle aux décrets du Ciel, mais fidèle à toi-même, à la Lumière qui est en toi, parcelle de sagesse et de divinité.»

Amin Maalouf, Les Jardins de lumière (1991)
Amin Maalouf, jornalista e escritor libanês de língua francesa, estreou-se no mundo das letras com As Cruzadas Vistas pelos Árabes (1983). Seguiram-se-lhe uma dezena de outros títulos repartidos pelo ensaio, romance e libreto de ópera. O sucesso da obra cruzou fronteiras à escala mundial, transformando o autor num dos nomes de referência literária actual mais acatados pela comunidade internacional. O segredo tem residido no seu propósito de promover o diálogo constante do oriente com o ocidente, de fomentar o entendimento de todos os homens, de estimular o respeito pela diferença. Proeza facilitada pelo facto de ter sido cometida por um ser colocado entre dois mundos, entre dois padrões civilizacionais, entre dois paradigmas mentais, i.e., por espelhar a alma mediterrânea de um nativo árabe de criação católica exilado na Europa.

Essa experiência sui generis de vida e o gosto pelo discurso histórico empurraram-no para a composição de uma autêntica trilogia de biografias ficcionadas de grandes vultos da cultura universal, que o fenómeno da globalização tem vindo paula-tinamente a relegar para segundo plano ou mesmo a ostracizar. Depois de ter traçado nas páginas de Leão, o Africano (1986) e de Samarcande (1988) as principais etapas andarilhas do diplomata, geógrafo e humanista mouro de Granada Hassan Al-Wazzan / Jean-Léon de Médicis (1488-1548) e do poeta, matemático e astrónomo iraniano Omar Khayyam (1048-1131); Amin Maalouf conclui a série com Os Jardins de Luz (1991), onde nos convida a conhecer um pouco melhor a personalidade do pintor, médico e filósofo babilónio Mani ou Manes (216-274), o «Buda da Luz» para os egípcios, o «Apóstolo de Jesus» para os egípcios, o fundador do maniqueísmo para os vindouros, que somos todos nós.

O dualismo religioso patente no modelo profético apregoado pelo «Filho de Babel» resulta em grande parte dos percursos que a existência lhe foi impondo. A permanência forçada, por mais de vinte anos numa comunidade eremita de monges brancos, isolado dos homens e do mundo, a explicar-lhe a origem e explicação da intransigência; e as longas e continuadas peregrinações pelos espaços abertos do império sassânida, no seio das populações anónimas, a oferecer-lhe os germes de uma nova relação com o transcendente, ancorada na conciliação de todas as religiões. Na opinião do curador de corpos e almas, a verdadeira forma de assegurar a total liberdade do homem não pode partir da renúncia exclusiva ao mundo exterior, mas sim da descoberta do mundo interior que habita dentro de si. Só assim se poderá aproximar do «Pai», o «Todo Poderoso», única hipótese de vislumbrar a face do «Criador» de todas as coisas, o «Rei dos jardins de luz», sempre de braços abertos para acolher os inimigos das trevas.

Na luta incessante entre a tolerância e a intolerância, entre o bem e o mal, entre deus e o diabo, a vitória parece que tem vindo a inclinar-se para os segundos termos dos binómios destacados. Era assim nesse tempo recuado, continua a ser assim nos nossos dias. Ao manter-se coerente com as suas convicções pessoais, com as suas crenças e doutrinas, Mani deixou escapar a oportunidade de garantir a canonização da sua fé, a institucionalização da sua igreja e a sobrevivência do seu pensamento. O «mensageiro da paz» morreu martirizado quando aconselhou o imperador persa a resolver os conflitos bélicos com o imperador romano pela via diplomática. A força da guerra foi mais forte do que a da concórdia. As lições da História têm servido de pouco para a formação de todos nós.

Fundado no século III da era comum, como um sincretismo do zoroastrismo, do budismo e do cristianismo, o maniqueísmo é hoje em dia uma religião extinta e o seu fundador um profeta sem seguidores. Neste sentido, os sistemas religiosos alicerçados por Buda, Jesus e Maomé tiveram um destino bem diferente do idealizado por Mani. A humanidade que promoveu esta selecção natural que o diga. Amin Maalouf, pela sua parte, já cumpriu sobejamente a sua missão.

17/11/09

Joaquim Romero Magalhães no Pátio de Letras


Sábado dia 21, às 17h


No próximo sábado dia 21, às 17h, recebemos ANTÓNIO LAGINHA que simultaneamente com a apresentação de imagens, nos falará dos “Os Ballets Russes” - a mítica companhia que há 100 anos se estreou em Paris – “ e sua influência em Portugal”.



100 anos dos BR; a vida e obra do fundador dos BR – Serge de Diaguilev - o Homem, o Artista, o Empresário; a importância do seu legado no mundo da dança; o impacto dos BR em Portugal desde a sua apresentação em 1917/18 até aos nosso dias.

12/11/09

finalmente nas bancas: Herta Muller

Prémio Nobel da Literatura 2009


"A Terra das Ameixas Verdes é uma obra sublime, um relato contido e agudo de existências em perigo sob a ditadura de Ceausescu. Romance político? Também. Mas é sobretudo um poderoso libelo contra a desumanidade tortuosa dos sistemas de governo cuja legitimidade deriva do silêncio e do medo. Um romance polifónico e anónimo: da maior parte das personagens conhecemos apenas o primeiro nome; da narradora, nem sequer isso…
Partindo do (aparente) suicídio de Lola, uma jovem - a narradora anónima - encontra apoio num grupo de três rapazes que, com ela, se interrogam e procuram entender tanto a morte de Lola como a sua própria impotência perante um regime que não se abstém de humilhar e silenciar todos aqueles que ousam desafiá-lo. Os quatro irão enfrentar os meandros de um poder corrosivo que visa diminuí-los e isolá-los, aniquilando-lhes a vontade e a capacidade de ter esperança.
Romance de resistência. Resistência ao silêncio asfixiante, porque cúmplice e perpetuador de despotismos, A Terra das Ameixas Verdes é um texto de «palavra difícil» porque as palavras apodrecem verdes na boca, trivializando experiências de terrível indizibilidade. Como dizer o medo da experiência? Como descrever a vontade de morrer? E no entanto, há o imperativo de dizê-lo.
Entre o silêncio impossível e a palavra estrangulada, esta é uma história de feridas jamais fechadas e do despudor impenitente de uma ditadura insidiosa que, obrigando à interiorização, sobreviveu nas marcas inelidíveis que deixou nos corpos e nas almas. "

in wook

11/11/09

Retratos do Algarve - sábado 14, 17h



No dia 14 de Novembro, Sábado, pelas 17h00, no Pátio das Letras:
lançamento do livro que reúne as conferências proferidas no ciclo Viajantes, Escritores e Poetas - Retratos do Algarve, que decorreu entre Março e Julho deste ano.

Organizado pelo Centro de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade do Algarve e pelo Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, esta iniciativa, integrada nas comemorações dos 30anos da Universidade do Algarve, decorreu no Arquivo Municipal de VRSA e no Pátio de Letras, em Faro.

Isabel Baraona - “folhas, páginas e outros desenhos”

6ª f dia 13, 22h - Pátio de Letras

A autora fará uma apresentação da sua obra, onde os seus livros de artista estarão à disposição do público.
Introdução por Vasco Vidigal (Artadentro)

No dia seguinte, sábado, pelas 18h, na Artadentro, Isabel Baraona apresentará um vídeo e desenhos originais, destinados a publicação, integrando a série “os Livros de cores”.
"Isabel Baraona (Cascais, 1974), estudou escultura, pintura, vidro e desenho, no Ar.Co (1993/96), enquanto completava o Bacharelato em Artes Decorativas na ESAD/FRESS (1994/97), em Lisboa. Estudou peinture et recherches tridimensionnelles, na ENSAV / La Cambre, Bruxelas, Bélgica (1997/2002) e fez a Pós-graduação em Pintura na FBAUL (2005/06). A sua obra é exibida publicamente desde 2001, individual e colectivamente, em Portugal e na Bélgica. Actualmente é docente na ESAD.CR, Caldas da Rainha.

Já quando em 2003, Isabel Baraona apresenta a série de pinturas intitulada “tu es mon pays”, a superfície pictórica apresenta-se sobretudo como memória do processo do fazer, como uma paisagem marcada e reveladora da acção do tempo. Mais tarde, é já o “subsolo” íntimo afectado pelos fenómenos exteriores, que motiva a sua obra.

Esta deriva introspectiva passa, então, a ser servida pelo desenho como forma privilegiada de investigação e inventariação de si na sua condição de jovem mulher. Logo aí, o manuseamento da tesoura, da agulha, da linha e a mancha vermelha no tecido, investigam códigos de separação dos sexos, sobretudo os que socialmente determinam o feminino. Depois, assumida plenamente a condição adulta, ainda que não abandonando o recorte e a colagem, é sobre o papel bidimensional que o lápis, o aparo ou o pincel, se impõem como meios de exteriorização de um mundo improvável, fantástico, terno e terrível, em que a maravilha da fábula se confronta com a crueldade e o medo, e em que o sonho é sempre perturbado pela crua realidade. "


texto Artadentro

10/11/09

Tertúlia Café Oceano - 5ª f 12, 18h30

"Extensão da plataforma continental… Quanto mais?"
é o tema de mais um Café Oceano, marcado para quinta-feira, dia 12 de Novembro, às 18h30, no Pátio de Letras.

O convidado é Nuno Lourenço, investigador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da UAlg e professor da Universidade do Algarve destacado para a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC).

in http://barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=37600&tnid=2

"No dia 11 de Maio,Portugal depositou na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a sua proposta de extensão da plataforma continental, ao abrigo do Artigo 76º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). A culminar este processo, Portugal reivindica jurisdição sobre o solo e subsolo marinhos numa área muito significativa do Atlântico Norte.

Na conversa que terá lugar neste Café Oceano, avança o geólogo Nuno Lourenço, “far-se-á uma retrospectiva histórica sobre a construção da CNUDM, abordar-se-ão as diferentes etapas da implantação do projecto de extensão da plataforma no País e as mais-valias que a sua implantação trouxe em termos de conhecimento dos fundos oceânicos nacionais e de incremento da capacidade tecnológica instalada”.

O especialista vai ainda falar sobre as perspectivas futuras do projecto de extensão, “actualmente a aguardar avaliação pela Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas” e, finalmente, será ainda abordado “o potencial económico que o futuro oferece em matéria de exploração dos recursos vivos e não vivos nos grandes fundos oceânicos nacionais”.

O Café Oceano é um espaço de discussão informal sobre assuntos relacionados com o oceano que nasceu de uma ideia original dos alunos de Oceanografia da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente (FCMA) e de Cristina Veiga Pires, também docente naquela faculdade.

Esta tertúlia decorre normalmente uma vez por mês, ao fim do dia, num café/bar de Faro. Para participar não é preciso ser especialista, só é necessária curiosidade e interesse pelas matérias em debate.

O painel de especialistas que faz a apresentação mensal de cada tema, assim como a moderação da discussão (sempre assegurada por Cristina Veiga Pires), incentiva à participação de toda a população.

“Quanto maior a diversidade de perspectivas melhor”, sublinha a mentora do projecto. A primeira edição do Café Oceano teve lugar no dia 19 de Maio de 2005, no Bar do Álvaro, em Gambelas. "

09/11/09

Lídia Jorge, os encontros fortuitos de cinco contos situados

«Em que altura a criança troca a moeda de oiro da inocência pela agulha da perversidade?»
Lídia Jorge, Praça de Londres. Cinco contos situados (2008)
Há tempos colocaram-me a questão de saber por que motivo a última colectânea de contos de Lídia Jorge, Praça de Londres (2008), estava a ter um acolhimento tão pouco expressivo por parte do público. Na altura não soube dar uma resposta satisfatória. Alguns meses passados, continuo na mesma. Revisitei atentamente os Cinco Contos Situados e voltei a sentir o mesmo prazer que o primeiro encontro me havia proporcionado. Trata-se de uma obra à altura das restantes que a autora nos tem vindo a oferecer regularmente ao longo de três décadas.

A dificuldade de identificar um fio condutor unificador de textos autónomos encontra-se aqui um pouco mitigada, por todos eles se centrarem em espaços urbanos concretos. O subtítulo eleito já nos acautelava para essa particularidade. Depois, a análise continuada da série é facilitada pelo magnetismo de escrita emprestado às instâncias narrativas, pela fluidez de discurso concedido às personagens, pela abordagem de tópicos postos à disposição do leitor. Remetem-nos, afinal, para um universo romanesco ímpar que só os grandes vultos da literatura logram atingir.

Na impossibilidade de tocar em todos os potenciais focos de interesse dos relatos, centrei-me num deles, nessa velha capacidade humana de fabricar histórias e de as transmitir a todos os interessados, de entrar nesse jogo de faz-de-conta, nesse debate partilhado de ideias. A verosimilhança dos factos imaginados nunca foi um obstáculo. Lídia Jorge não foge a essa regra de ouro da criatividade artística. Geralmente fá-lo através da voz experiente das mulheres. É o que se passa na totalidade dos fragmentos fingidos de vida em apreço. Como expositora de factos, como ouvinte de casos, como protagonista de eventos.

Em «Praça de Londres», seguimos a corrente de pensamento de uma transeunte anónima que se deixa surpreender pelas manifestações de afecto de um homem grisalho para com uma criança, talvez filha, com quem se cruza nesse recanto da cidade do Tejo. O insólito quotidiano documentado na «Rue du Rhône» está ligado à compra de uma mala de mão de senhora, em pele de crocodilo genuíno do Mississipi, episódio vivenciado por duas clientes portuguesas e uma vendedora suíça, numa loja dessa movimentada artéria de Genève. O palco dos sucessos volta à capital do nosso país, quando a protagonista de «Branca de Neve», uma bancária de sucesso, se sente perseguida por um bando de sete crianças na Avenida dos Estados Unidos. A «Viagem para dois» coloca-nos na presença de um criminalista e uma novelista, em trânsito ferroviário entre Milão e Veneza, em que o primeiro põe a segunda ao corrente de um estranho episódio que testemunhara em Lisboa e lhe solicita que, enquanto escritora de histórias de cordel, lhe dê uma forma literária conveniente. O livro encerra com «Perfume», o único inédito da série, composto como uma «Homenagem tardia a Yalmaz Güney» e desenvolvido em torno da fragrância emanada de uma história de amor muito particular, a dos pais do narrador do conto, repartida pelas principais cidades da Europa.

As sínteses estão feitas. Os pormenores ficam de reserva para os curiosos. Que a surpresa da descoberta persista para deleite de todos aqueles que, por um qualquer descuido, ainda não mergulharam na aventura da leitura, no mundo mágico dos heróis da imaginação. Quem sabe se no final dessa viagem não vislumbram uma resposta satisfatória para a questão inicial.

Na réplica literária de Lídia Jorge à história de amor contada pelo cineasta turco referido pode ler-se: «Diz uma velha canção que no fundo de uma garrafa se encontra a vida de um homem, e por certo que assim acontece desde que se inventou a fermentação do malte». A chave do êxito das obras de arte em geral e de um livro em particular só pode ser encontrada se tivermos o ousadia de a abraçar com todos os sentidos. Lídia Jorge pôs-nos a «garrafa» à nossa disposição, agora só temos de abri-la e ouvir todas as canções que ela encerra. De facto, não se trata de um fardo muito pesado para carregar.

05/11/09

ler e respirar 13


(Este texto é parte de um outro mais longo publicado no blog “incursões”. Não é meu hábito contrabandear textos (mesmo os meus) mas a Liliana insistiu em que o reeditasse aqui. As mulheres mandam (até ganham o Nobel!) pelo que não tive outra alternativa senão servir vinho velho em odre novo.)

Há Nobel e Nobel, basta escolher

O Nobel da literatura em si pouco me diz. Quantos premiados não estão, desde há muito, sepultados sob uma espessa capa de esquecimento e silêncio?

Claro que se pode sempre dizer que o esquecimento afecta também alguns dos grandes, Gide, por exemplo, de que em Portugal não deve haver actualmente uma única edição recente. Todavia, poder-se-ia retorquir que isso, esse ocasional desinteresse, tem mais a ver com a incultura de alguns, com a ganância dos editores que diariamente nos despejam toneladas de livros que só se vendem graças á publicidade, às capas berrantes, aos pagamentos (que os há) a livreiros para exibirem vantajosamente os seus subprodutos nas estantes mais à vista dos incautos.

Ora, há uns largos anos, mais propriamente em Maio de 93, numa surtida à livraria, caiu-me o olho num livrinho fino, modesto, sem capa apelativa mas com um título definitivamente extravagante: “O homem é um grande faisão sobre a terra”. Eu não sabia que aquilo era um provérbio da minoria alemã da Roménia e que apenas significava que, neste mundo, o homem se move tão deselegantemente quanto o voo do faisão. Isso aprendi com o livrinho, em tardia leitura, que –como é hábito – fiz muito tempo depois. Os compradores compulsivos arrastam consigo um deficit de leitura tremendo em relação ás pilhas de livros que vão acumulando. No caso em apreço foi um erro. Trata-se de um romance extremamente bem feito, melhor contado, em capítulos breves, densos, numa linguagem poética e, ao mesmo tempo, devastadoramente expressiva, quase coloquial.

Herta Müller, de que só li esta obra, ganhou este ano, para geral surpresa o Nobel. Os “derrotados” (se de derrotados se pode falar) terão sido, entre outros, Roth, Llosa ou Amos Oz, autores consagradíssimos, com obra extensa e notável. Pessoalmente juntar-lhes-ia Cláudio Magris um dos mais brilhantes exemplos da misteriosa literatura triestina, cidade que muito me seduziu e que atraiu intelectuais como Joyce ou Svevo (dois não premiados...).

Vale a pena ler esta escassa centena de páginas que uma editora corajosa (cotovia) publicou em 93 (há dezasseis anos!) e que não terá despertado grandes entusiasmos por cá. Não sei se ainda por aí circulam alguns exemplares para venda. E, no caso de circularem, se ainda custam oito euros (ou, como vejo no meu exemplar, 1680$00, que não era propriamente um preço de amigo para tão pouco livro.) mas, se permitem um conselho, vão por ele, é boa leitura, a letra é grande, a capa é de uma simplicidade desarmante e... (ao contrario de estrepitosas e recentes novidades) aquilo fala mesmo de nós, da nossa humana e mortal condição, e do que outros fazem de nós (ou tentam fazer, mas isso é outra história).

Novidade no Pátio de Letras

Clique nos títulos dos livros para ler as sinopses e excertos

1 Km de cada vez, Gonçalo Cadilhe, Oficina do Livro

Faça-se Justiça!, Francisco Teixeira da Mota, Oficina do Livro


Auto-retrato do Escritor enquanto Corredor de Fundo, Haruki Murakami, Casa das Letras

Fábula, William Faulkner, Casa das Letras




Revolução 1989, Victor Sebestyen, Ed. Presença


História da Tecnologia, Luisa dolza, Teorema


Money, Martin Amis, Teorema
O Principezinho - O Grande Livro Pop Up, Presença. Veja AQUI o video de apresentação

03/11/09

Novidades acabadas de chegar ao Pátio de Letras

"Os Informadores", de Bret Easton Ellis, Ed. Teorema

Brutalmente divertido, pungente e inflexível, este livro revela-nos, sem máscaras, uma cidade estranha e um tempo que é o nosso. Uma intensa narrativa impressionista agora em filme.

Do autor de "Psicopata Americano" e "Menos que Zero"


"Invisível", de Paul Auster, Ed. Asa

Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.

Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbutido de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade. Uma obra inesquecível pela mão de um dos nomes cimeiros da literatura dos nossos dias.


"Conversa n'A Catedral", de Mario Vargas Llosa, Ed. Dom Quixote

Sentados a uma mesa da taberna A Catedral, o jornalista Santiago Zavala conversa com o seu amigo Ambrosio. Estamos em Lima, na época ditatorial do general Manuel A. Odría (1948-1956), e dessa conversa acompanhada de cerveja emerge um Peru cruel, corrupto, desesperançado, matéria-prima ideal, portanto, para um romance que só um grande jornalista e escritor como Vargas Llosa poderia ter produzido.

Uma história esplêndida que reúne muitos dos ingredientes que fizeram a fama do autor peruano – as críticas ácidas, a irreverência, a rebeldia e o humor sarcástico. Conversa n'A Catedral é a crónica de uma ditadura e da resistência possível graças à palavra. Uma aguda reflexão sobre a identidade latino-americana e sobre a perda da liberdade.

Um romance que, mais do que um marco na carreira literária do autor, é um ponto de referência inevitável na história da literatura universal.


"Portugal de Hoje à Mesa", de João Paulo Martins e Vítor Sobral, Ed. Livros D'Hoje

24 vinhos acompanham as melhores receitas portuguesas contemporâneas, confeccionadas por 12 chefes


"A Horta Biológica", de Vincent Gerbe, Ed. Europa-América


"Agricultura Biológica", de Francesco Indrio, Ed. Europa-América

Best-seller "Caim" novamente disponível

Já pode adquirir o seu exemplar de "Caim"
na livraria Pátio de Letras.

"Caim", de José Saramago, Ed. Caminho,
PVP 16,90€

Colecção Minotauro da Edições 70 no Pátio de Letras

Minotauro 1 - "Conta-natura", de Álvaro Pombo

Minotauro 2 - "Bingo!", de Esther Tusquets

Minotauro 3 - "Crematório", de Rafael Chirbes


02/11/09

António Lobo Antunes

«… aquilo que nos move acaba por ser a inquietação…

… a alegria de ser entendido sem palavras, que é o nosso sonho, é indizível. O nosso sonho é que nos possam entender sem termos que explicar. Que a pessoa entre em nós naquele núcleo de trevas que nós achamos sempre que é incomunicável. E isso é possível através dos sentidos. Os sentidos são anteriores à palavra»


Notável entrevista de/a Mário Crespo, SicN, Jornal das 21h, 30 de Outubro. A ouvir e ouvir aqui