Excertos da coluna de opinião "Tribuna Livre" (O Barlavento, 25 de Julho de 2009), subscrita pelo Arquitecto paisagista Fernando Pessoa.
«O Fernando Grade, cujos méritos de artista são bem conhecidos, alertou há dias para os atentados à integridade da Sé de Faro, perpetrados pelas obras de restauro que ali têm sido efectuadas.
Fiquei perplexo, como todos quantos o ouviram , ao saber que não houve um projecto de restauro elaborado por especialistas qualificados, como seria minimamente aceitável, para avançar com as obras; daí estarão a resultar adulterações e graves atropelos, sendo mais gritante, para um leigo, o uso de rebocos de cimento.
Neste caso como em outros, revela-se bem a falta de consciência de todas as Entidades que têm a ver com o património e a impunidade com que se continuam a cometer acções lesivas dos valores mais notáveis da cultura algarvia, o que já seria injustificável mesmo numa dessas repúblicas das bananas, mas que é absolutamente intolerável num país que, pertence à UE e que sendo riquíssimo em termos de património, se revela paupérrimo em termos do nível cultural de dirigentes, responsáveis e gestores ( públicos e privados).
Recorrer a especialistas – que os há muito competentes – não parece ser regra.
Mas património não diz respeito apenas, como parece que muita gente ainda pensa, aos monumentos e edifícios notáveis; um monumento não vale só por si, mas também por todo o tecido construído que o envolve.
(...)
A pouco e pouco o Algarve, com um l ou com dois l, vai sofrendo intervenções descaracterizadoras e empobrecedoras do seu património.
Seriam precisas muitas páginas para contar tudo o que se tem feito – e continua a fazer – por aí, pondo em risco, muitas vezes de forma irreversível, o património do Algarve.
(...)
Confio que daqui a algumas gerações, com outro entendimento e outra cultura geral que falta, hoje, à maioria dos decisores, elas façam desta geração o juízo condenatório que ela merece; e que naquilo que ainda vier a ser possível venham a corrigir os actos de incompetência, primarismo, ganância e estúpida auto-suficiência que caracteriza muito dos manda-chuvas destas décadas.»
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