A Sicília de outra maneira
Se Portugal fosse, do ponto de vista de séries televisas (já nem falo do cinema….) um pais normal, eu não me atreveria a falar deste autor. É que, correram em Itália, pela RAI cerca de dez ou doze filmes com as aventuras do comissário Montalbano. Darei também a referencia para quem quiser encomendar os filmes, aliás excelentes, e a melhor direcção italiana para os obter depressa e com segurança.
Hoje, e aqui, falaremos apenas dos livros.
Andrea Camilleri não é exactamente um desconhecido em Portugal, longe disso. Há que eu saiba, pelo menos, cinco livros dele editados pela Difel e não excluo que haja outros e até noutras editoras. A razão é simples: trata-se de uma série policial muito bem escrita, extremamente cativante, sem recorrer aos narizes de cera muito em voga quando se fala da Sicília, numa terra tão inventada que parece verdadeira.
Camilleri é um cavalheiro de provecta idade que só cerca dos setenta começou a publicar. De súbito, em pouquíssimo tempo, via seis ou sete dos seus livros, na lista dos dez mais vendidos. Não que eu me enterneça demasiadamente com estas explosões de devoção pública, basta ver com que lenha por cá nos aquecemos no que toca a best-sellers. Todavia, aqui, o clamor público é merecido: uma história sólida, uma linguagem viva, humor e, sobretudo, um par de personagens que, ao longo dos livros se vão tornando muito da nossa família.
O romance policial atravessa de alguns anos a esta parte um merecido momento de sucesso. À uma porque permite descrever uma sociedade bem melhor do que muitos romances tradicionais. Depois porque se libertou do “mistério” engenhoso com “M” grande e do detective sofisticado e omnisciente que, pelo menos no que me toca, desesperava o leitor por demasiado subtil.
No caso concreto estamos perante um comissário de polícia numa pequena cidade, bem na sua pele, guloso, sem ilusões quanto aos mecanismos do poder local e regional, tentando apesar de tudo levar a cabo a sua missão sobre um fundo de terra cansada de muita guerra (e a Sicília, onze vezes invadida por diferentes povos sabe-o bem) e enfrentando não só os seus específicos problemas mas também os que decorrem de um poder central distante e corrupto.
Camilleri que deu ao seu comissário o nome de Montalbano em homenagem a Manuel Vasquez Montalban tem no seu já vasto repertório mais duas outras séries que a critica apelida de “históricas”: uma dedicada aos mesmos locais mas durante a passagem do sec. XIX para o XX e outra mais próxima, sobre os anos do fascismo. Que eu saiba não estão ainda vertidas para o português. No entanto, o que há já chega para abrir o apetite e mesmo para o saciar, provisoriamente. A vossa excelente livreira fornecer-vos-á as informações necessárias. Por minha parte, resta-me recomendar calorosamente Camilleri. Fixem este nome: é boa literatura e, mesmo que isso pareça desqualificante, é boa literatura para o Verão.
Quem, porventura, esteja interessado nos dvd que referi, todos na série Montalbano, poderá encomendá-los em www.dvd.it (“Il comissário Montalbano”). Estão publicados doze títulos e dos primeiros dez há dois “cofanetti” de cinco títulos cada. Claro que a língua usada é o italiano mas isso já é convosco.
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