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AGENDA

06/07/09

ler e respirar 6



Dois contistas de excepção

E, já agora, dois excelentes romancistas! Falo-vos de John Cheever e de Truman Capote, quase da mesma geração, ainda que Cheever seja mais velho cerca de treze anos. Aliás pouco terão em comum, for a o facto de serem americanos. Cheever pinta os subúrbios enquanto o sulista Capote começa pelas prosas poéticas mas rapidamente, graças, a “A sangue frio” começa a ser reconhecido pelo seu realismo. A fama surpreende-o pouco e torna-se mesmo um dos escritores mais em voga nos Estados Unidos e na Europa onde desde muito cedo começa a ser traduzido. Compulsei agora mesmo, a sua estreia em Portugal, “A Harpa de Ervas” (Estúdios Cor) e verifiquei que o meu exemplar foi adquirido há precisamente cinquenta anos.

Cheever demorou mais a atravessar o Atlântico. Creio que começa a ser falado já nos anos setenta ou primeiros oitenta, o mesmo é dizer que já escrevera grande parte da sua obra, pelo menos a mais importante.

Todavia, não é dos romances de ambos que venho dar notícia mas apenas, como prometera, no último folhetim, dos contos. Dos magníficos, saborosíssimos, extraordinários contos. Ora aqui está boa leitura para o Verão. Entre dois mergulhos lê-se descansadamente um conto. Salutar e abre o apetite para um peixinho grelhado e uma salada. Outro conto, uma sesta reparadora, um passeio ao longo do mar, muitos amigos, a cervejinha do fim da tarde e por aí fora. A estação quente pede leituras boas mas com a natural intermitência que a vida balnear provoca. Ora nessa conjuntura, ou se tem em mãos um grande romance que por força se quer ler, ou o melhor é recorrer ao conto, arte maior muito desprezada hoje em dia, cá pelo burgo.

Justamente andam por aí à venda duas edições excelentes de contos destes cavalheiros. Ambas com a chancela absolutamente recomendável da Sextante, editora que tem um excelente catálogo (mesmo se também publique alguns produtos menos interessantes mas de escoamento rápido. Aliás, o que interessa, o que me interessa, é que haja bons livros publicados. Se para isso também se trazem á duvidosa luz do dia escritos menores não me ofendo. Ninguém me obriga a comprar tudo o que se publica mas apenas aquilo que quero, de que gosto ou que amigos avisados me recomendam.).

Se a memoria não me falha estão disponíveis o primeiro volume dos “Contos completos” de Cheever e a integral dos “Contos” de Capote. São edições recentes e, ao que sei, o público terá preferido ler antes os cavalheiros e cavalheiras que se notabilizam na nossa televisão. O mundo é assim e não há volta a dar-lhe. Ou como dizia o meu avô: “se puseres na Ribeira duas mesas de comida uma com iscas de fígado aldrabadas e outra com caviar podes ter a certeza que cai tudo na primeira e a segunda com sorte terá um só (feliz) comensal.”

Leitores, mesmo que um democrático e patriótico gosto pelos petiscos tradicionais seja de louvar não se esqueçam que há mais cozinha noutros lados. De comer e chorar por mais. E posso garantir que nos últimos meses não se publicou, no campo da ficção indígena, nada que se chegue ao Cheever ou ao Capote. Nada!

Para a semana falaremos de "policiais"

*esta secção muda de nome. de facto "ler e depois" é o título de um livro de Óscar Lopes e nem mesmo como homenagem (aliás justa) me atreveria a usar um título de outrem.

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