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AGENDA

28/10/08

Stefan Zweig: 24 horas na vida de uma mulher

Há livros «situados» sobre questões intemporais.
Este tem um décor, uma linguagem, uma narrativa que o tempo tornou apetecível porque antiga e refinada, de uma época cruel em que mesmo quando eram péssimos os sentimentos e miseráveis as atitudes, subsistiam, excelentes, as maneiras.
Stefan Zweig foi um notável escritor e a grande escrita irrompe logo nas primeiras linhas, as que filam o leitor pelo pescoço e o arrastam página a página, de rojos.
Além disso, há nele o momento inesperado e o modo invulgar com que saltam, de entre as linhas, ideias, sentimentos, sugestões, o «soluço selvagem e animal, como só pode soltar alguém que nunca chorou».
A história é a da paixão e seus desvarios, contada pela inglesa «Mrs. C.», amante, amorosa, capaz de muito defender porque não julga nada, compreende tudo, viveu intensamente.
Mas é mais do que isso. É uma lição sobre o mundo mágico dos que ocultam aos próprios olhos o reflexo da sua inquietação, as mãos que traem, sem pudor, a intimidade que o rosto não revela, a mesa de jogo como «arena de mãos», duas mãos trementes, «enclavinhadas uma na outra como animais em luta», «mãos frementes, arquejantes, como que sufocadas, vencidas pela expectativa, trémulas e arrepiadas».
Eis a «impúdica nudez» da paixão, a loucura fora de todas as conveniências e a morte, sempre a morte e Stefan Zweig suicidar-se-ia, no Brasil, com a sua mulher de então, o «precipitar-se directamente no nada», o ir o Homem para fora da existência.
«Envelhecer não é, no fundo, senão perder o medo do passado». Este é um livro magnífico «porque todo o sofrimento é cobarde e recua diante do amor à vida». Nos anos quarenta do século vinte estava em muitas estantes de tantas casas. Hoje regressa sem nunca ter deixado de estar.

JAB

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