ABRIMOS NOS DOMINGOS 15 e 22 DEZ.

Aberto de 2ª a Sábado
das 10h às 14h e das 15h30 às 19h30
abrimos à noite para as sessões agendadas

AGENDA

12/10/09

ler e respirar 11


E se passássemos às coisas sérias?

Os leitores desculparão. Sei que em Faro, as eleições foram braviamente disputadas, que S. Macário deu à costa sem naufrágio nem males de maior e que tudo isso é excitante.

Todavia, para lá desses momentos de frisson eleitoral, dessa brevíssima pausa eleitoral, fica o resto. E o resto somos nós, a nossa circunstância, algo mais duradouro que ultrapassa em muito a vida da polis. E por aí começamos.

Na polis, na verdadeira, na grega, o teatro era muito mais do que um espectáculo. Era algo de sagrado. Algo que remetia para os mitos fundadores da cidade, para a eminente dignidade dos homens que se viram obrigados a criar a ética para responder ás acções imprevisíveis e desconcertantes de deuses que inventaram (e abusaram) todos os vícios.

O teatro, a alma da poesia, manteve intacto o seu esplendor, ao longo dos séculos. Riu-se dos poderosos em Roma, derrotou preconceitos pela voz do advogado Pathelin, exaltou as virtudes populares com Gil Vicente, o heroísmo anónimo de Fuenteovejuna, e por aí fora.

No recanto, por mais recôndito que seja, em que humanos se juntem, à débil luz de duas pobres brasas, o teatro acontece pela voz de um ancião, de um griot, de um comediante. Não admira: nós acreditamos nas histórias e no enorme poder que elas têm. Moldaram as nossas infâncias, fizeram-nos esquecer maus momentos e, quando acontecem num estrado á nossa frente, o milagre da palavra viva, toca-nos a todos e cada um numa absurda mas calorosa comunhão com o actor, com o poeta e com a multidão á nossa volta na noite matricial e cúmplice.

Em Portugal há uma editora, uma editora corajosa, impar, com um catálogo exemplar, que dedica ao teatro muito, quase tudo do que nesse domínio se publica entre nós. Hoje falaremos apenas de um desses milagres. Do milagre norueguês: Henrik Ibsen. Um autor do século XIX que morre nos alvores do século XX. Um autor cuja radical modernidade se mantém intacta, pese embora o forte pendor simbolista de muitas das suas obras. Ibsen, exilado voluntário, conseguiu causar escândalo na estreia de praticamente todas as suas peças. A coragem, a depurada poesia, a audácia, a denúncia do provincianismo dos valores vitorianos ( estamos no século XIX!!!) foram constantes da sua vida.

Seria bom poder ver as suas obras todas em palco. Até lá, há na “cotovia” (passarinho melodioso e simpática) três belos volumes de “peças escolhidas”. Vale a pena. Vale mesmo a pena. E parece que a editora pondera vender os três volumes num pacote económico. Se assim for, nem hesitem. E se não for, paciência: o prazer também tem um preço.

Sem comentários: