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AGENDA

19/01/11

O Arenque Fumado no Pátio de Letras

Um arenque fumado está em cima da minha mesa, ao lado do teclado. Está fechado numa caixinha de cartão e não cheira mal.
Começo a desdobrar a embalagem, com muito cuidado porque parece frágil, e a total surpresa: tenho na mão um tríptico colorido cheio de letrinhas e ilustrações tão apetitosas que nem sei por onde começar.

«O Arenque Fumado», de Charles Cros, chega-nos através da Editora Bruaá.
As ilustrações são de André de Loba. O texto começa assim:


Era um grande muro branco – nu, nu, nu,
Contra o muro, uma escada – alta, alta, alta,
E, no chão, um arenque fumado – seco, seco

*
A origem deste poema esteve numa história que Charles Cros contou uma noite ao seu filho Guy. Escrito e publicado em 1872, primeiramente numa versão em prosa, aparece em verso, tal qual o conhecemos hoje, na colectânea de textos de Cros Le Coffret de santal em 1873.
O sucesso deste poema, decorado e dito por gerações de franceses até aos nossos dias, tal como outros textos de Charles Cros, contribuem para o aparecimento do monologue fumiste, género muito divulgado pelo humorista Coquelin Cadet, que encoraja Cros e outros escritores a escrever novos textos que obedeçam a esta estrutura: texto cómico, curto, com uma só personagem e de ritmo rápido. Em 1884, Cadet publica uma antologia de monólogos divididos da seguinte forma: monólogos tristes, alegres, indecisos, verdadeiros e excessivos. Todos eles acompanhados com conselhos para os dizer.
Admirado por Edward Gorey, este terá sido um dos primeiros a ilustrar este texto, traduzido para o inglês por Alphonse Allais. Também por via da admiração que alguns surrealistas sentiam por Cros, André Breton inclui este poema na histórica Antologia do humor negro onde, no texto de apresentação, ressalta "a proeza que resultou ao fazer rodar em vazio o moinho poético no Arenque Fumado".

info Bruaá 
 

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