Almirante Martins Guerreiro, militar de Abril e antigo membro do Conselho da Revolução
e
Carlos Luís Figueira, antigo dirigente nacional do PCP
Texto da Profª Maria Lúcia Lepeki, catedrática da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, sobre o livro:
“Uma coisa vivida”
Enquadrado por aspas, título desta nota é uma citação, tirada do último livro de Carlos Brito Alvaro Cunhal– Sete Fôlegos do Combatente (p. 81)
Conhecido sobretudo pela actividade política exercida durante décadas, Carlos Brito é também poeta e autor de prosa de ficção, bem como memorialista , tipo de discurso em que se enquadra Tempo de Subversão- Páginas Vividas da Resustência bem como o recentíssimo livro sobre Cunhal (Edições Nelson de Matos, 2010). Variante do texto de natureza histórica, é o memorialismo um especial documento que agrega quem relembra ao que é relembrado. Não é esse o menor encanto da escrita baseada na memória.
Dentro desse princípio, Álvaro Cunhal –Sete Fôlegos do Combatnte é, desde logo, bi-centrado ( um centro é Cunhal, o outro é quem o recorda). Assim será, mas não custa buscar melhor entendimento.Na verdade, esse livro ( que lemos empolgadamente) tem um terceiro centro, o Partido Comunista Português, sobretudo no tempo que se seguiu ao 25 de Abril. Numa narrativa clara, escorreitíssima, em discurso frequentes vezes elegante porque sóbrio, Carlos Brito revisita o tempo que muitos de nós, inclusivamente eu, tiveram o privilágio de viver. Cunhal aparece-nos com traços diferentes daqueles que muitas vezes lhe atribuem. Desses traços,o mais importante sera a capacidade de mudar de acordo com as mudanças envolventes. Carlos Brito ilustra esse processo de permanente aprendizado com grande cópia de documentos, muitíssimos deles da lavra única ou predominante de Cunhal, embora até pudessem vir a público como obra de um colectivo. As citações sucedem-se, e esse recurso discursivo faz do livro de Carlos Brito um verdadeiro diálogo com Álvaro Cunhal, com o Partido Comunista Português, com o processo politico nacional e ainda, como não podia deixar de ser num memorialista, com o próprio Carlos Brito. Essa última vertente da escrita faz de Alvaro Cunhal– Sete Fôlegos do Combatente um livro extraordinariamente comovente, sem deixar de ser um estudo histórico cujos méritos, por indiscutíveis, não podem deixar de ser reconhecidos por qualquer leitor.
Aos diálogos que referi como constituindo o sumo do livro de Carlos Brito juntar-se-á mais um, aquele que os que viveram o processo de Abril farão consigo mesmos, recuperando, com lucides e emoção ( as duas são indissociáveis) o que eram e o que sentiram na madrugada dos cravos. Memórias de outros, memória de nós mesmos, eis o que é o livro de Carlos Brito. Poucos livros poderão gabar-se de assim serem.
14 de Junho de 2010
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