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AGENDA

09/05/09

SARAMAGO NA ÁUSTRIA: A REDESCOBERTA DO ELEFANTE PORTUGUÊS

Pátio de Letras, 9 de Maio de 2009, 17h30

6 de Março de 1552 – Salomão, o elefante indiano oferecido por D. João III ao arquiduque Maximiliano, chega a Viena, depois de uma longa viagem através da Península Ibérica, Itália e Áustria, enfrentando o rigor do Inverno alpino, a passo lento durante grande parte do percurso, de barco entre Rosas e Génova e, mais tarde, de Innsbruck a Viena, acompanhado por um imenso séquito real durante quase um ano inteiro.

24 de Novembro de 1999 – José Saramago fica hospedado no “Hotel Elefante” em Salzburg e estranha a enorme estátua de um elefante à entrada do hotel e um friso de madeira no restaurante, representando o itinerário de um elefante, de Lisboa (Torre de Belém) a Viena (Catedral de Santo Estêvão).

Da conjugação de “ignotos fados”, como Saramago refere na nota de abertura à Viagem do Elefante, nasce uma belíssima narrativa, entretecida de humor e ironia, sarcasmo e paródia, acerca de um elefante mais ou menos esquecido em Belém, Salomão ou Solimão de seu nome, e do seu cornaca, Subhro, ou Fritz, como mais tarde o arquiduque o baptiza, os dois a caminho de Viena, os dois protagonistas de uma revisitação à condição humana e ao sentido da existência. Ao longo do itinerário – geográfico e interior –, o leitor depara com estranhas e extraordinárias personagens: um comandante de cavalaria que se entretém com a leitura, pela quarta ou quinta vez, de Amadis de Gaula; um elefante que salva, com os seus barritos, um soldado perdido na bruma e mais tarde se ajoelha diante da basílica de Santo António de Pádua; uma rainha que se emociona com a notícia da morte de Solimão, gritando simplesmente “não quero saber” quando chega a Lisboa a trágica missiva; um cornaca dotado de uma sabedoria ancestral e enigmática, um tratador de elefantes que questiona e critica, que joga com as palavras e seus múltiplos sentidos, que põe a nu a hipocrisia e o cinismo entre os homens, a corte e a igreja; e um romancista que “coloca a mão amiga no ombro” de Subhro, divertindo-se com o confronto entre os couraceiros austríacos, imponentes e luzidios, e a tropa portuguesa, miserável e mal montada, ironizando a “insistência” dos austríacos em dar nomes alemães a cidades e desfiladeiros, estalagens e albergues situados em território italiano: “a coisa explica-se se nos lembrarmos de que a maior parte dos hóspedes que aqui vêm são precisamente austríacos e alemães que gostam de sentir-se como em sua casa. Razões afins levarão um dia a que, no Algarve, como alguém terá o cuidado de escrever, toda a praia que se preze, não é praia mas é beach, qualquer pescador fisherman, tanto faz prezar-se como não, e se de aldeamentos turísticos, em vez de aldeias, se trata, fiquemos sabendo que é mais aceite dizer-se holiday´s village, ou village de vacances, ou ferienorte”.

Gilda Lopes Encarnação

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