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AGENDA

09/11/08

Nuno Júdice

Ontem, sábado 8 de Novembro, pelas 17h00, foi apresentado, no Pátio de Letras, o livro de poesia de Nuno Júdice, O Breve Sentimento do Eterno

A apresentação esteve a cargo de José Carlos Barros que, poeta e homem da cultura e pela cultura que é, brindou a assistência que encheu o Pátio com um belíssimo texto que contamos partilhar em breve aqui no blog. Nuno Júdice falou em seguida da sua escrita e deste livro em particular, ao qual, pela história da sua edição apodou, ironicamente, de "obra póstuma" e leu-nos vários dos sonetos que nele se incluem.

José António Barreiros, no início da sessão, fez uma breve introdução que ora reproduzimos .


"No início da década de sessenta uma nova geração soube libertar-se das limitações estéticas da arte socialmente comprometida, que o neo-realismo pastoreava. Não sem riscos, mesmo na Literatura.
Nessa altura, essa nova geração de universitários trouxe à escrita portuguesa um novo fôlego de modernidade, resgatando, pelo cosmopolitismo, quarenta anos de isolacionismo mental, mortos que estavam, entre naus e armaduras, os heróis do modernismo, saudosistas de um passado numa Nação entretanto sem futuro.
No início da década de sessenta um jovem atreveu-se a erguer a sua voz na poesia, arauto de uma proclamação, manifesto contra todos os que queriam na Arte política, na Literatura panfleto, na poesia hino. Nuno Júdice trouxe à vida cultural portuguesa o tema inquietante da inutilidade da poesia.
Inútil, porque não útil no sentido de utilizável. Inútil porque, do ponto de vista espiritual, indispensável. Inútil, enfim, porque no ângulo da fruição dos prazeres da vida, voluptuária.
Abertas as portas da liberdade poética, estava apontado o rumo a este novo criacionismo.
Minucioso artífice, esse jovem tinha diante de si, como tijolo para a sua edificação, a palavra; como cimento para edificar, a morfologia; como fio de prumo para a solidez da sua obra, a sintaxe.
Nuno Júdice foi arquitecto de um novo modo estruturado e geométrico de construir poesia. Sem ele tudo teria sido diferente. Nuno Júdice foi engenheiro no cálculo da resistência dos materiais, atrevendo-se na ponderação cinética do soneto, esse prodígio de equilíbrio poético montado sobre palafitas. Ousou edificar também, na extensão larga em que a volumetria da linha escrita se horizontaliza, aproximando visualmente a poesia da prosa, essa forma de dizer com a não comprida e economia de papel, assim o digam os editores.
Chegado a este ponto, este jovem que nasceu exactamente no mesmo ano que eu, viveu o tempo suficiente para, qual alma oriental errante no Ocidente esfíngico e fatal, fundir na caligrafia a estética do escrito, o conteúdo do dito e a beleza do modo de dizer.
Este é pois um livro sobre a palavra, um livro sobre a escrita, um livro sobre a caligrafia.
O Pátio de Letras tem a maior honra em acolher quem, tendo aprendido a desenhar letra por letra de cada palavra, em papel pautado a duas linhas, soube libertar-se do papel quadriculado da Literatura agrilhoada a uma causa e do papel branco da Literatura liberta de qualquer
efeito."

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